sábado, 12 de outubro de 2013

A inquisição, o papa e o suspiro de alguns católicos “conservadores”

Como querem combater a cultura da morte do socialismo, homossexualismo e feminismo quando se sentem à vontade com a cultura da tortura e morte da Inquisição?
Julio Severo
Parece impossível a alguns católicos aceitar o fato de que o papa é um mero ser humano, vulnerável a erros como qualquer outro ser humano. Com os recentes episódios do Papa Francisco dando entrevistas que foram louvadas pela mídia internacional como mudança liberal no Vaticano, sem mencionar seu total silêncio “pró-vida” na visita oficial ao Brasil, quando Dilma Rousseff estava para legalizar o aborto no Brasil — e de fato o legalizou, já que a autoridade máxima dos católicos nada tinha a dizer sobre o assunto no país mais católico do mundo —, publiquei artigos sobre o assunto.
A reação foi imediata. Uma das colunistas do Mídia Sem Máscara imediatamente veio ao meu Facebook me criticar duramente, atribuindo a mim a autoria do artigo. Precisei explicar que o artigo não era meu. Na verdade, publiquei artigos do WND, ou WorldNetDaily.
Os artigos não atacaram a fé católica. Mesmo assim, a reação foi como se lidar com as fraquezas papais fosse um ataque direto a uma divindade.
Por muitos anos, alguns (não todos) articulistas católicos no Mídia Sem Máscara se dedicam ao vão exercício de criticar os protestantes enquanto os evangélicos ficam em silêncio. Respeito grandemente meus amigos católicos, especialmente os líderes pró-vida, mas precisarei quebrar o silêncio a fim de instruir o público. Deixo claro, porém, que me dirijo exclusivamente a alguns católicos que se consideram conservadores, mas, estranhamente, são saudosistas da Inquisição.

Quem é o único mediador entre Deus e os homens?

Acredito, como já comprovou o próprio WND, que o Papa Francisco não está sendo coerente com o conservadorismo pró-vida que João Paulo II ensinou e denunciar tal incoerência não pode ser acusada de “birra” de protestante contra os católicos.
Se houvesse birra, eu teria motivos de sobra para nunca me envolver com católicos. Mas tenho por mais 20 anos tido tal envolvimento, que se restringe à luta pró-vida e pró-família. Esse envolvimento não envolve doutrinas, pois os católicos não podem aceitar um cristão que adora Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, não adora nem considera Maria como co-redentora, uma espécie de divindade a quem se deve dirigir rezas.
Eu adoro apenas Pai, Filho e Espírito Santo. O único intermediário entre Deus Pai e os homens é Jesus Cristo, nunca Maria. É o que a Bíblia ensina claramente:
“Pois existe um só Deus e uma só pessoa que une Deus com os seres humanos — o ser humano Cristo Jesus, que deu a sua vida para que todos fiquem livres dos seus pecados. Esta foi a prova, dada no tempo certo, de que Deus quer que todos sejam salvos. E eu fui escolhido como apóstolo e mestre dos não-judeus para anunciar a mensagem da fé e da verdade. Eu não estou mentindo; estou dizendo a verdade.” (1 Timóteo 2:5-7 BLH)
Se eu fosse me envolver com católicos na base de doutrinas, é certo que nunca entraríamos em acordo, especialmente porque a Bíblia é para mim a autoridade máxima. Portanto, nas relações com católicos que lutam pela família, mantenho apenas a perspectiva pró-vida, sem doutrinas.
Foi apenas nessa perspectiva que publiquei artigos do WND. Foi também nessa perspectiva que apontei o silêncio injustificável do papa enquanto Dilma estava para legalizar o aborto.
Ora, se o papa está errando, o que se deve fazer? Calar? O fato de eu ser evangélico não me impede de falar de questões pró-vida de todo o universo cristão. Católicos criticam maus protestantes. Católicos elogiam bons protestantes. Eu elogio bons católicos e, quando necessário, aponto discrepâncias católicas, na questão pró-vida, que merecem ser expostas.

João Paulo II pediu perdão pelos crimes da Inquisição

Outro colunista do Mídia Sem Máscara se queixou uma ou duas vezes dos artigos do WND no meu blog e depois acabou desabafando:
A Inquisição lutou para limpar a Igreja por dentro. O foco dela foi sempre as heresias internas do cristianismo. E como sempre, a Igreja nos ensina o que fazer: buscar dentro de nós o mal que divide, que atormenta e que mata a alma.
“Limpar” torturando e matando? A Inquisição foi algo tão vergonhoso que nenhum papa moderno tem coragem de defendê-la. Segundo a edição de 2004 da revista Época, em matéria intitulada “Papa pede perdão pelos crimes cometidos pela Inquisição,” o papa João Paulo II pediu perdão pela Inquisição que torturou e matou pessoas consideradas heréticas. Ele se desculpou pelos “erros cometidos a serviço da verdade por meio do uso de métodos que não têm relação com a palavra do Senhor.”
A Inquisição nada tinha com a Palavra de Deus, e mesmo depois que o papa João Paulo II reconheceu isso, vemos um colunista do Mídia Sem Máscara defendendo essa prática criminosa, que, como outros grandes massacres repugnantes que aconteceram ao longo da história, estava repleta também de motivações políticas nefastas. Uma das populações vítimas da Inquisição era exatamente os judeus.
Ao pedir perdão pela Inquisição, o papa João Paulo II, de acordo com o conhecido site católico Zenite, disse: “É justo que… a Igreja assuma com uma consciência mais viva o pecado de seus filhos recordando todas as circunstâncias nas quais, ao longo da história, afastaram-se do espírito de Cristo e de seu Evangelho, oferecendo ao mundo, em vez do testemunho de uma vida inspirada nos valores da fé, o espetáculo de modos de pensar e atuar que eram verdadeiras formas de antitestemunhos e de escândalos.”
Papa João Paulo II: perdão pela Inquisição
Temos então a declaração clara do papa: os católicos da Inquisição estavam em pecado e se afastaram do espírito de Cristo e de seu Evangelho. Mais claro que isso impossível.
Católicos que elogiam ou desculpam a Inquisição entram em choque com João Paulo II, envergonham o verdadeiro Evangelho e evidenciam que desconhecem as posições de seus próprios líderes. Querem ser mais católicos do que o papa e no final acabam defendendo o crime, a tortura e o assassinato de inocentes. Acabam pecando e defendendo o pecado.
A defesa da Inquisição é uma agressão aos colunistas do Mídia Sem Máscara que são católicos (Olavo de Carvalho, Percival Puggina, etc.) que, como o papa João Paulo II, só veem uma conduta apropriada diante dos crimes da Inquisição: pedir perdão.
A defesa da Inquisição é uma agressão a mim, que sou evangélico e também colunista do Mídia Sem Máscara. Juntamente com os judeus, os evangélicos foram os mais massacrados pela Inquisição. Por isso, a defesa da Inquisição é uma agressão a outros colunistas do MSM que são evangélicos, judeus, ortodoxos e até ateus.
Defender a Inquisição é vilipendiar o Evangelho. Por isso, em defesa do Evangelho, e recordando as palavras de João Paulo II, só há um caminho para os católicos saudosistas da Inquisição: se envergonhar de seu torpe saudosismo e pedir perdão.
A Inquisição é famosa por seu papel de cometer massacres e atrocidades. Sua má fama nos livros de história rivaliza com a Peste Negra. A Enciclopédia Britânica diz que o papa Gregório IX aprovou a Inquisição em 1231, contra os heréticos cátaros e valdenses. Segundo a mesma enciclopédia, em 1252, o papa Inocêncio IV aprovou o uso de tortura contra os “heréticos.” Mais adiante, os papas iniciaram uma relação promíscua com as autoridades civis para lidar com os “heréticos.” Os “heréticos” que eram condenados pela Inquisição católica eram entregues ao governo civil, para tortura e morte. Essa relação durou séculos e a Inquisição passou não só a perseguir e “limpar” as terras católicas dos “heréticos,” mas também a trucidar todo cristão que adorasse a Deus de forma diferente das doutrinas da Igreja Católica.

Famosos cristãos que foram mortos pela Inquisição:

Jan Huss (1373–1415) Era um líder católico na atual República Checa. Ele pregava na língua do povo, citando versículos da Bíblia na língua checa. Na época, a missa era toda realizada em latim, e o povo nada entendia. Huss começou a abrir a Bíblia para o povo. A Inquisição católica o entregou, como sempre fazia, às autoridades civis, para ser queimado na fogueira. Em sua última oração, ele disse: “Senhor Jesus, por ti sofro com paciência esta morte cruel. Rogo-­te misericórdia por meus inimigos.” Huss morreu cantando salmos. Em sua terra, hoje ele é considerado mártir e há um feriado em sua honra. Huss foi um dos precursores da Reforma. Se você tem uma boa conexão de internet, você pode assistir ao filme da vida de Huss aqui: http://youtu.be/tpNWshXzTw0
Jerônimo Savonarola (1452-1498) Nascido em Florença, Itália, pregava, como um dos profetas hebreus, para vastas multidões que enchiam sua catedral. Seus sermões eram contra a sensualidade e o pecado da cidade e os vícios do papa. Foi enforcado e queimado na grande praça de Florença, dezenove anos antes das 95 teses de Lutero.
William Tyndale (1494-1536) Tyndale graduou-se na Universidade de Oxford em 1515, onde estudou as Escrituras no hebraico e no grego. Aos trinta anos, fez uma promessa de que traduziria a Bíblia para o inglês para que todo o povo, desde o trabalhador do campo até os ricos dos palácios, pudesse ler e compreender as Escrituras em sua própria língua. Na época, a Igreja Católica proibia rigidamente qualquer pessoa leiga de ler a Bíblia. A proibição da leitura da Bíblia agravou-se de tal maneira que se uma criança recitasse a oração do “Pai Nosso” em inglês toda a sua família era condenada a ser queimada na estaca. William Tyndale, que conheceu Lutero, concluiu a tradução do Novo Testamento em 1525. Foi condenado a morrer na fogueira em praça pública e, para impedir que morresse cantando hinos, foi estrangulado. Para assistir ao surpreendente filme da vida e martírio de Tyndale, clique neste link: http://youtu.be/-qnuhulvPB4
Não só líderes cristãos foram martirizados, mas populações de cidades e regiões inteiras na Europa foram massacradas pelos agentes da inquisição.
Martinho Lutero
Só não posso citar Martinho Lutero (1483-1546) como um dos muitos mártires da Inquisição, pois a perseguição papal contra ele foi um fracasso. O papa da época realmente chegou a excomungar Lutero, o que significava que qualquer autoridade civil poderia matá-lo, mas providencialmente Deus usou as autoridades para protegê-lo.
Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e sua tradução é considerada como o marco mais importante para a unificação da língua alemã. O alemão que a Alemanha fala hoje é o alemão de Lutero.
O esforço monumental, de vida ou morte, de Lutero e outros reformadores para colocar a Bíblia na língua do povo produziu mudanças até mesmo na Igreja Católica, que sempre negou ao povo acesso à Bíblia na língua do povo. Hoje, qualquer católico tem uma Bíblia em sua casa e pode lê-la. Esse acesso fácil é resultado direto dos sacrifícios da Reforma protestante, que acabou com o tempo provocando mudanças na Igreja Católica.
Graças à Reforma protestante, os católicos hoje quando vão à missa não mais ouvem a Bíblia sendo lida em latim, uma língua que o povo nunca entendeu.
Mas essas grandes conquistas não vieram sem um preço de sangue. Esse preço foi principalmente a perseguição da Inquisição, que não começou na época da Reforma, mas séculos antes. A Enciclopédia Britânica, 11ª edição, diz que até testemunhas eram também torturadas para arrancar confissões que condenassem a vítima acusada de “heresia.” O advogado que tentasse defender a vítima também seria acusado de “heresia” e condenado à morte.
Instrumento de tortura da Inquisição
Essa enciclopédia diz, na página 590 sob o verbete Inquisition, que a excomunhão e a entrega de uma vítima às autoridades seculares equivaliam a uma sentença de morte, geralmente na fogueira. Esse era o método de “limpar” as terras que estavam sob rígido domínio papal. Todo homem e mulher que não reconhecesse a Igreja Católica como única fonte de salvação era “herético” e estava condenado.

Depois de caçar e matar milhares de “heréticos,” a Igreja Católica diz que há salvação para eles por meio das boas obras

Centenas de milhares foram condenados. De que adiantou então a Inquisição derramar tanto sangue? Hoje o papa declara que qualquer um pode se salvar praticando boas obras, sem conhecer a Jesus.
O documento do Vaticano Lumen Gentium diz: “Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna.”
A mesma Igreja Católica que condenou à tortura e fogueira protestantes que reconheciam que apenas Jesus, não a instituição católica, é fonte de salvação, hoje ensina que qualquer um pode, sem Jesus, se salvar pelas boas obras.
Instrumentos de tortura da Inquisição
Jesus disse: “Sem mim nada podeis fazer.” Ninguém — seja católico, evangélico ou ortodoxo — nada pode sem Jesus. Mas os católicos admiradores ou desculpadores da Inquisição batem no peito sobre os méritos históricos da Igreja Católica, que errou feio com a Inquisição (pelo qual João Paulo II já pediu perdão) e erra feio novamente ao pregar salvação universal através da Lumen Gentium. A Igreja Católica que caçava e matava “heréticos” hoje os declara salvos pelas boas obras.
A Inquisição, sob todos os pontos de vistas honestos, foi uma prática sanguinária que o próprio Vaticano não tem hoje a mínima vontade de usar como referência para o que quer que seja de bom, a não ser para pedir perdão. É uma das supremas vergonhas do papado.

Modernos “cátaros” — dignos de tortura e morte?

Por isso, me admira muito que um colunista do Mídia Sem Máscara veja a Inquisição sob um olhar de fantasia. A “Inquisição lutou para limpar a Igreja Católica”, torturando e matando todo e qualquer cristão que tivesse um pensamento cristão diferente do dogmatismo católico.
Outro colunista do Mídia Sem Máscara disse:
O que mais me causa repulsa ao protestantismo é o seu materialismo, reduzindo a espiritualidade a um legalismo bíblico. Ser protestante é, acima de tudo, um cátaro moderno. Temo que este catarismo destrua as bases civilizacionais católicas do Brasil, transformando nossa sociedade num bando de puritanos idiotas, irracionalistas, fanáticos e estúpidos querendo se achar o porta-voz de Deus na Terra.
Isto é, ao chamar os protestantes de “cátaros,” a sentença é óbvia. O papado das trevas da Inquisição só tinha uma ordem com relação aos cátaros: eliminação — por tortura, fogueira, etc.
Tais pensamentos, de ambos articulistas do Mídia Sem Máscara elogiando direta ou indiretamente a Inquisição, não condizem com o verdadeiro Cristianismo nem com quem diz lutar contra a cultura da morte. A Inquisição era, em todo sentido, uma cultura de tortura e morte.
Resolvi escrever o artigo de hoje depois que um leitor do meu blog escreveu horas atrás:
Júlio não sabia que esse Leonardo Oliveira era o dito Conde de Villanueva… olha o que ele tem postado sobre a fé protestante, eu o conheci através de uns textos dele que vc colocou em seu blog
Sobre a preocupação do articulista do Mídia Sem Máscara de que os “cátaros” modernos estão destruindo as bases civilizacionais católicas do Brasil, qual é a solução dele? Uma nova Inquisição para os “cátaros” modernos? Mais torturas? Mais mortes na fogueira?

Uma democracia protestante no meio de um país católico sob a ditadura da Inquisição

Ora, preciso fazer algumas ponderações aqui. O Brasil é o país mais católico do mundo. A primeira grande presença protestante no Brasil foi nos idos de 1600, com a ocupação holandesa no Nordeste. Os protestantes holandeses vieram e trouxeram artistas, arquitetos, engenheiros, pastores, etc. Sob o comando do Conde Maurício de Nassau, eles construíram teatros, pontes e outras magníficas edificações que duram até hoje, depois de vários séculos. Mas ao contrário do resto do Brasil, onde tanto protestantes quanto judeus não tinham a mínima chance de escapar das torturas e fogueiras “santas” da Inquisição, no Nordeste holandês havia liberdade religiosa. Você tinha liberdade de ser católico, protestante ou judeu. Aliás, muitos judeus vieram da Europa para viver no Brasil holandês. A primeira tradução completa da Bíblia para o português foi feita por João Ferreira de Almeida, sob patrocínio holandês.
Contudo, as lideranças católicas do restante do Brasil decidiram que os “heréticos” holandeses tinham de ser eliminados. Era preciso “limpar” o Brasil “católico” dos “heréticos” holandeses. E de fato muitos “heréticos” foram mortos pelas guerras instigadas pelos amantes da Inquisição. Quando o restante foi expulso, foram embora acompanhados dos judeus, que tanto quanto os protestantes sempre foram vítimas da Inquisição. Os judeus foram para a Nova Holanda, que é Nova Iorque, fundando ali todo o sistema financeiro que se tornou central no mundo. O cemitério judaico mais antigo de Nova Iorque tem nomes em português, lembrando a origem.
O Nordeste do Brasil muito perdeu por amor à Inquisição católica. Perdeu uma cultura de tolerância e respeito e ficou com uma cultura de trevas, inquisição e morte.
As tais “bases civilizacionais católicas” parecem não ter sido muito notadas pelo Imperador Pedro II, que fez questão de abrir as portas do Brasil para os imigrantes europeus protestantes. O imperador era um homem culto e queria pessoas mais cultas no Brasil. Evidentemente, ele queria bases melhores para o Brasil. E quem poderia condená-lo?

A maior nação protestante do mundo: modelo e alvo de admiração mundial

A maior nação protestante do mundo eram os Estados Unidos, que eram exemplo de avanço, cultura e poder. No seu apogeu protestante, os EUA eram o maior modelo republicano para o mundo. Eram um modelo cobiçado e, enquanto todos queriam ir para os EUA, ninguém tinha semelhante desejo pelo Brasil.
Muito antes da ameaça comunista, a principal ameaça que os EUA viam eram as políticas do Vaticano, consideradas traiçoeiras pelos americanos. Em 1867, os EUA cortaram todas as relações diplomáticas com o Vaticano, depois de uma onda anticatólica na sociedade americana, especialmente estimulada por rumores de uma conspiração do Vaticano para assassinar o presidente Abraham Lincoln. As relações só foram restabelecidas mais de um século depois, em 1984, no governo de Ronald Reagan, um evangélico conservador que se aliou ao papa João Paulo II para derrubar o comunismo da União Soviética.
Ronald Reagan
No passado, a imagem sanguinária da Inquisição permanecia gravada na mente da América protestante. Mas as relações difíceis com o Estado do Vaticano nunca impediram os EUA de terem em sua nação liberdade para os católicos, que tinham o estado de Maryland (terra de Maria), enquanto nos países católicos imperava a lei da Inquisição. Imperava a cultura da tortura e morte contra os “heréticos.” Esse império não tinha vez nos EUA.
Hoje, reconhece-se que os EUA estão em apostasia. Mas coincidência ou não, esse estado de apostasia foi alcançado num momento histórico em que os protestantes americanos estão perdendo sua vez e quem está tendo mais vez são os católicos que chegam da imigração em massa da América Latina. Todos os cristãos que compõem hoje o Supremo Tribunal dos EUA são católicos, num contraste surpreendente do início, quando todos os juízes desse tribunal eram protestantes. Os protestantes foram extintos do mais elevado tribunal americano.
Supremo Tribunal dos EUA: católico e decadente
O perfil cristão dos EUA hoje é radicalmente diferente do que era duzentos anos atrás. Na elaboração da exemplar constituição americana no século XVIII, dos 55 constituintes, havia apenas 3 deístas e 2 católicos. Todos os outros eram evangélicos. A liberdade que os católicos tiveram foi notável, pois na mesma época os protestantes do Brasil — se é que havia — não teriam liberdade nem de dizer quem eram, muito menos participar da elaboração de uma constituição.
A diferença entre as bases “civilizacionais católicas” do Brasil e o protestantismo tolerante dos EUA era a diferença entre trevas e luz cultural, liberdade e escravidão cultural. Ser católico na América protestante do século XVIII era a prova da cultura tolerante dos EUA. Ser protestante no Brasil católico do século XVIII era risco certeiro de vida.
A apostasia que os EUA enfrentam hoje, com o coincidente aumento dos imigrantes católicos latino-americanos, ocorre por estarem rejeitando o Cristianismo de vertente protestante, com seus rígidos valores éticos, que tornou sua nação grande e poderosa.

CNBB: a maior resistência ao socialismo no Brasil, de acordo com o revisionismo histórico dos futuros católicos “conservadores”

No Brasil, que de acordo com o colunista do Mídia Sem Máscara está perdendo as “bases civilizacionais católicas,” o que aconteceria se “limpassem” a nação brasileira dos homens, mulheres e crianças que ele chama de “cátaros” modernos? Há uma grande maioria católica no Congresso Nacional, mas a principal resistência ao aborto e à agenda gay ali é católica? Não. É a Frente Parlamentar Evangélica. Que tal um Brasil sem essa resistência?
Parece que pelo fato de terem de sustentar uma instituição humana (a Igreja Católica) como santa e imaculada, muitos católicos não conseguem aceitar erros e até crimes cometidos em nome da instituição. A Inquisição é só um exemplo. Claro que os deslizes do papa atual nas questões pró-vida não se igualam aos crimes da Inquisição. Mas mostram a dificuldade dos católicos em aceitar a realidade de um papa e uma instituição que são dotados de humanidade e cometem atos próprios dessa humanidade caída.
Se até alguns (não todos) colunistas do Mídia Sem Máscara, que se julgam católicos conservadores, não conseguem aceitar que a Inquisição foi criminosa, como aceitarão um papa pendendo para a esquerda?
A cegueira religiosa é tanta que séculos no futuro poderão dizer, num surpreendente revisionismo histórico da Igreja Católica no Brasil, que a maior resistência ao esquerdismo de nossa época, com toda a sua carga de cultura da morte, foi a maior instituição católica brasileira: a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Mas até lá, nenhum de nós estará vivo para dizer a verdade: a CNBB foi a grande responsável pela criação do PT, que foi o principal responsável, juntamente com outros aliados esquerdistas, pelo socialismo e pela implantação da cultura da morte no Brasil.
Sob o reinado da CNBB, a maioria das paróquias do Brasil vive o catolicismo da Teologia da Libertação. Tudo isso será apagado da história como mera difamação dos protestantes contra a Igreja Católica, apenas para preservar a honra da instituição? Alguns católicos “conservadores,” já habituados a negar os crimes da Inquisição e que se acham mais “católicos” do que o papa João Paulo II, entrarão no período da negação com relação à ativa participação da CNBB na implantação do socialismo no Brasil?

Uma palavra final

Eu tenho o posicionamento dos protestantes americanos durante o apogeu protestante dos EUA. Eles davam liberdade para os católicos nos EUA, mas tinham justificadas suspeitas da instituição católica, especialmente por causa de sua tenebrosa Inquisição.
O que quero dizer é que a Igreja Evangélica salva e a Igreja Católica não? Não. Só Jesus Cristo salva. Mesmo com todo o progresso cultural maior dos EUA em seu apogeu protestante, reconheço que o protestantismo não salva, não cura e não liberta. Só Jesus Cristo faz isso. Mas é inegável que com a Peste Negra da Inquisição, o protestantismo ofereceu o melhor reduto para a liberdade de expressão e culto a Deus.
Jesus Cristo não fundou nenhuma instituição humana e muito menos uma “Santa” Inquisição para torturar e matar na fogueira os que não aceitassem seus ensinos. Mas a Inquisição fez muito mais do que isso: torturou e matou os próprios seguidores de Jesus, cumprindo suas próprias palavras:
“Tenho lhes dito essas coisas para preparar vocês para tempos difíceis a frente. Eles vão expulsar vocês dos lugares de reuniões. Chegará até mesmo a época em que qualquer um que matar vocês achará que está fazendo um favor a Deus. Eles farão essas coisas porque realmente nunca entenderam o Pai.” (João 16:1-3 A Mensagem)
Vou continuar respeitando meus colegas articulistas católicos do Mídia Sem Máscara que admiram ou desculpam a Inquisição, ainda que vejam a nós evangélicos como “cátaros” modernos — dignos de tortura e morte na fogueira. Com a volta da Inquisição, eu, a bancada evangélica, Silas Malafaia, Marco Feliciano e muitos outros evangélicos que combatem a cultura da morte seríamos exterminados.
Os católicos elogiadores da Inquisição realmente querem essa “limpeza”?
Instrumentos de tortura da Inquisição
É vergonhoso que enquanto o Brasil está sob grave ameaça marxista, eles estejam perdendo tempo defendendo uma monstruosidade que os papas modernos têm vergonha de mencionar. Como querem combater a cultura da morte do socialismo, homossexualismo e feminismo quando se sentem à vontade com a cultura da tortura e morte da Inquisição?
Errar nas prioridades evidencia não só despreparo, mas também falta de maturidade espiritual. Admirar aquilo que o próprio papa já pediu perdão para todo o mundo é um pecado torpe e, como disse Jesus, demonstração de que o admirador realmente nunca entendeu o Pai.
Instrumento de tortura da Inquisição
Parece que o saudosismo da Inquisição é o que resta a quem está totalmente incapacitado de debater os fundamentos daquilo que diz acreditar. Não é de admirar: a Igreja Católica, após meio milênio da Reforma, ainda não conseguiu convencer aqueles que se apegam às Escrituras Sagradas de que seu amontoado de doutrinas exóticas, como a do purgatório e a de Maria como co-redentora, está livre de erros absurdos.
Enquanto a hegemonia cultural da esquerda persiste, e o governo do PT e os globalistas avançam desenfreadamente na implantação de suas agendas nefastas, alguns católicos que se consideram conservadores suspiram por ver protestantes em câmaras de tortura e fogueiras “santas,” colocando suas paixões religiosas sem base acima do amor a Deus e ao próximo.
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Uma Resposta Carismática à “Crise Crescente por Trás da História de Sucesso Evangélico do Brasil”

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