Pensem em
um povo que abandonou suas bases, seus lastros, mas que não apenas
colocou de lado tudo o que havia de singular, alto e belo de sua
cultura, mas desprezou, criminalizou, odiou.
Há 100 anos, em 1915, nenhuma alma na Terra poderia prever que a Europa,
a conquistadora do mundo, o berço da Civilização que mais progrediu e
se expandiu na humanidade, com uma literatura pujante, uma alta cultura
invejável e descobertas, em todas as áreas, importantíssimas para a
humanidade, estaria em um estado tão deplorável quanto hoje. Há um
século a Europa vivia dos louros, de suas conquistas de séculos
passados, mas também plantava sementes negras em um solo fértil.
O
racionalismo, racismo, irracionalismo, materialismo, socialismo,
cientificismo, entre outras nefastas ideias tiveram um amplo espaço na
Europa na primeira metade do século XX, mas tais sementes sombrias ainda
eram o que eram: sementes. Algumas, como a eugenia, derivada do racismo
científico, cresciam rápidas e fortes, porém a própria ciência
ocidental, além da filosofia e teologia, fez essa erva daninha minguar
depois de um tempo. Todavia, outras sementes demoraram a crescer:
oriundas do racionalismo exacerbado e do irracionalismo niilista, tais
sementes brotaram e cresceram nas sombras e só deram frutos quase 100
anos depois, no final do século XX. Foi na década de 90, há mais de 20
anos em alguns locais (em alguns países só tiveram uma ampla força no
final da década em questão, ou até mesmo no início do Terceiro Milênio,
há menos de 20 anos), que os frutos vieram ao mundo político com toda a
sua força: o multiculturalismo do progressismo.
A culpa de a
Europa estar em plena queda, com sua cultura quase morta e necrosada,
não é dos milhares de imigrantes, tampouco de terroristas presentes no
meio desses imigrantes. A culpa é do europeu. As consequências das
políticas progressistas, tão amadas e defendidas pelos europeus, foram
grandes em termos de abrangência: colocaram a maioria, ou uma grande
quantidade (depende do país) da população europeia com o pensamento
guinado para o progressismo.
O
multiculturalismo se tornou pauta quase que prioritária na política
europeia. Quem discordava não estava apenas errado, mas também se
tornava criminoso, era racista, xenofóbico,
preconceituoso, nazista. Com a taxação e a segmentação, os que pensavam
de modo diferente e divergiam das visões e políticas multiculturalistas,
se embasando na lógica da realidade, se viram sem terreno para debater,
sem espaço para se expressar. O primeiro assassinato que o
multiculturalismo fez, e faz, foi das tradições europeias, foi o do
pensamento verdadeiramente crítico e da verdadeira tentativa de diálogo.
Não dariam a chance de pessoas mais conservadoras dialogarem, o que
acelerou mais ainda o declínio da cultura europeia.
Antes mesmo
das grandes levas de imigrantes assentarem suas culturas nas grandes
cidades europeias, o progressismo estragava a cultura europeia. Os
pensamentos antirreligioso, sofista, irracionalista, utilitarista,
feminista e libertino ceifavam a alta cultura europeia nas academias e
universidades décadas antes de políticas progressistas serem amplamente
implementadas; foi no campo de produção mais alto e conceituado da
Europa que começou seu gradual declínio: nas universidades. A cultura
europeia, que determinou todo o sistema de economia, produção, bancário,
político, diplomático, universitário, bélico, midiático e jurídico do
mundo se via enfraquecida por si mesma, optando por denegrir o passado e
enaltecer um futuro “melhor”, em nome de um suposto progresso.
Em nome do
“progresso” a taxa de natalidade europeia caiu. Não se via mais virtude
em ter filhos, mas sim desvantagens. A cultura era incapaz de fazer o
básico para sua sobrevivência: incentivar a manutenção do número
populacional; a inaptidão de conservar suas singularidades e virtudes,
em comparação com outras culturas, se mostrou com muita força e efeito
na tendência desconstrucionista, destruindo certezas, antes absolutas,
da cultura da Europa. Agora não existia povo mais civilizado ou menos
civilizado, sociedades inferiores ou superiores em seus hábitos,
sistemas, ensinos, leis e tradições. Todos eram iguais, semelhantes. Todos deveriam se curvar para o grande coração pintado no paredão rosa do progressismo. E se alguém discordasse? Argumentum ad Hitlerum, reductio ad Nazium,
isto é, esse alguém seria posto em paralelo com Hitler e a história do
nazismo. Todos os seus argumentos seriam reduzidos a comparações
estapafúrdias e falaciosas ao nazismo.
A Europa se
tornou um pedaço molenga de gelatina. A cultura se esterilizou de tal
modo que quase todas as ligações com as antigas virtudes e conquistas
europeias se tornaram algo distante, como se fossem pertencentes a um
mundo alienígena. Desde então, leis absurdas se colocaram contra as
tradições, e a boa moral, existentes. O feminismo, por exemplo, tomou
força, conseguindo cada vez mais campo político e adeptos, podendo fazer
passeatas com atentado ao pudor sem medo de represálias, invadindo
igrejas, quebrando ícones religiosos, urinando em altares, afrontando
padres, monges, bispos ou qualquer indivíduo que usasse da coerência
para ser contra as proposições feministas – e pior: ano passado, quando
invadiram a Catedral Notre-Dame de Paris, ativistas feministas foram expulsas pelos vigias da catedral. O que a justiça francesa fez? Não apenas absolveu as feministas, como também condenou aqueles que tentaram interromper a manifestação e o vilipêndio à fé católica, multando em 300 a 1000 euros os vigias que impediram a barbárie. A Europa contemporânea não apenas tenta ter um monopólio de discurso, mas também age judicialmente contra quem tenta se defender do “progresso”.
A barbárie
multiculturalista iria se degenerar em totalitarismos e discriminações
massivas contra tudo o que era tradicional sozinha. O politicamente
correto existente no âmago do progressismo tem tendências totalitárias, e
mesmo se não existissem imigrantes em massa dentro do território
europeu, os bárbaros iriam corromper o Ocidente de dentro para fora;
contudo, dadas as circunstâncias internacionais, os bárbaros, agora,
invadem mais uma vez o Ocidente, e de modo “pacífico”.
Ao “lado”
da Europa existe uma civilização antiga e com crenças e valores
próprios, sem a maioria das bases que o Ocidente teve em sua formação. É
a Civilização do Islã, embasada, principalmente, em um único livro, O Livro,
o Corão. O mundo muçulmano não se assemelha ao mundo cristão. Suas
leis, costumes e preceitos morais são, em geral, baseados na palavra de
seu livro sagrado, e de modo diferente da Bíblia, onde existe um amplo
espaço para interpretações, indagações e mudanças de leituras – Santo
Agostinho, no fim da Antiguidade, já afirmava que não teria como saber o
que eram os “seis dias” descritos no Livro do Gênesis para a Criação,
ou seja: o santo não considerava as palavras da Bíblia como literais, ou
totalizantes para definir o significado correto do que se queria passar
no texto –, pois o texto bíblico é inspirado, enquanto o Corão foi ditado para
Maomé. Embora, dentro do islã, existam vertentes que admitam
interpretações diferentes do Corão, elas são bem mais brandas que no
cristianismo. As duas religiões, ambas construtoras de Civilizações, são
muito diferentes para serem comparadas.
Como o
Ocidente tem, como uma de suas bases, a Bíblia e sua moral, a cultura
ocidental não consegue sair muito de seu alicerce, mesmo que o odeie
como ocorre no progressismo multicultural. O multiculturalismo foi
proposto como uma ação contra a discriminação de outras culturas
inseridas dentro de Estados. Ela nasce no Ocidente – e tem um moralismo
que seria impossível de ser conseguido sem a moral
cristã –, em meio à preocupação de querelas internas dentro de
sociedades, que ameaçassem a Democracia e o Estado de Direito, tentando
integrar as diversificadas culturas dentro dos Estados. Com o tempo,
infelizmente, o multiculturalismo mostrou sua natureza paradoxal.
Para apoiar
todas as culturas existentes em um país, o multiculturalismo está
condenado a se contradizer para conseguir ser, no mínimo, efetivo em sua
meta. É preciso diminuir a cultura nativa – de preferência a Ocidental,
sempre – em prol das demais. O propagador do multiculturalismo não
nota, porém, que o próprio multiculturalismo é uma cultura que tenta se impor sobre a predominante, precisando ser a dominadora para
ter sua real “eficácia”. Tal paradoxo é estrondoso, pois o
multiculturalismo não consegue ser aquilo que propõe: múltiplo, mas sim
um emaranhado de propostas com flertes hegemônicos. Há outra
contradição: culturas que, se forem realmente respeitadas, irão inibir outras culturas, pois a inibição e o domínio de outra cultura é uma característica intrínseca de certas culturas, logo, apoiar todas as culturas seria, também, dar apoio ao extermínio de algumas.
Como todo
paradoxo, o problema do multiculturalismo é insolúvel. Ele precisaria
ser abandonado para que as dificuldades que ele criou fossem apagadas
com as décadas, contudo os europeus se recusam a abandoná-lo. A Europa
não se endireita, e prefere investir em políticas claramente fracassadas
em relação às leis de imigração. Como a mentalidade do povo do Ocidente
Europeu, em geral, absorveu o progressismo, a própria cultura das
massas nativas se recusa a enxergar o próprio erro com relação às demais
culturas.
Sequer
enxergam os males que a cultura multiculturalista faz em suas próprias
sociedades. Não veem, e nem fazem questão de ver, que o multicultural
não aceita as próprias culturas europeias. O caso das feministas em
Notre-Dame deixa bem claro que até mesmo a antiga cultura da Justiça, e
do uso da razão no sistema jurídico, está sendo posta de lado em nome da
voz das “oprimidas”. Não são apenas as senhoras que vão para a missa as
prejudicadas. Todos são.
Mas a maior ameaça, além da destruição da própria cultura, é a infiltração de outras culturas na Europa, culturas superiores às
dos europeus. Superiores não pelo fato de serem tolerantes, de
conquistarem grandes proezas na filosofia e na ciência, não; mas ao
menos a cultura muçulmana se sabe conservar e manter a renovação, e
crescimento, do número de seus indivíduos. Qualquer cultura que é
incapaz de, no mínimo, renovar seu número populacional é uma cultura
moribunda; por mais que tenha alcançado grandes conquistas e
contribuições, é uma cultura sem futuro, fadada a desaparecer. Culturas
precisam de crianças.
O
multiculturalismo abriu os portões para o islã, religião de um hábito
expansionista e dominador. O já comentado paradoxo permitiu que outras
culturas, muitas vezes nocivas, proliferassem dentro do Ocidente como
corvos proliferam em um milharal desprotegido; não adianta comparar o
mundo muçulmano com o nosso, pois suas bases são diferentes, eles não
pensam como nós, não haverá aculturação. Os bárbaros, mais uma vez,
invadem o Ocidente, só que agora sem resistência. Depois dos recentes
atentados em Paris, que mataram mais de 100 pessoas, uma das primeiras
preocupações da grande mídia foi a “reação da direita nacionalista”.
Isso: uma das primeiras preocupações não foi com o crescente afluxo de
imigrantes que, como a malvada direita avisou, seria perigoso; a
primeira inquietação dos iluminados progressistas foi para com aqueles
que não estavam fazendo nada.
Um dia
depois dos atentados, um grupo corajoso e são de franceses se reuniu e
foi feito um pequeno protesto contra o número absurdo de imigrantes em
Paris. Resultado? Uma massa de pessoas maior os expulsou em nome da
“paz”, do amor e do acolhimento aos estrangeiros: os mesmos motivos que
levaram os terroristas a terem cidadania francesa ou se infiltrarem na
França com grande facilidade. O mesmo motivo que gerou o sangue no chão
de Paris.
É um tempo
sombrio para a Europa. Não é culpa dos imigrantes que o atentado em
Paris tenha ocorrido, mas sim dos próprios europeus, que abandonaram e
desprezaram suas crenças e valores antigos – seria um cenário
infinitamente mais seguro para os europeus se sua cultura fosse mais
forte. Poderia haver até mais imigrantes na Europa que agora, porém o
perigo da mudança brusca de cultura seria menor, e possivelmente, em
casos críticos como o da Síria, onde existe uma alta chance da
infiltração de terroristas nas grandes massas de refugiados, a Europa
sequer teria permitido o grande fluxo de refugiados, optando por ajudar
povos menos perigosos; não tenho muitas esperanças para a cultura
europeia agora. Eles se recusam a ter filhos, a voltar para suas
tradições, enfim, se recusam a deixar sua cultura viva.
O islã só
esta fazendo o que lhe é normal, e nada mais, seja por meios violentos
ou por uma infiltração pacífica. Os europeus perderão suas
nacionalidades, seus idiomas, seus hábitos, seus monumentos, suas
crenças. E o primeiro a sorrir quando tudo isso ocorrer, possivelmente
não será um soldado do Estado Islâmico, ou um muçulmano que ficaria
agradecido por não ver mais mulheres fazendo nudismo em praças públicas,
mas a primeira pessoa a sorrir, provavelmente, deve ser uma professora
em alguma faculdade, ministrando suas últimas aulas antes da Sharia ser
um fato, tendo um saboroso e grande sorriso amarelo na boca, pensando:
“Conseguimos. Integramos “todos” em nossa cultura!”.
…
Mas… Quem
sabe? Em 1915 ninguém jamais poderia prever o nosso presente. Será que
em 2015, da mesma forma, seria errado cogitar um futuro muçulmano para a
Europa? Tudo depende única e exclusivamente dos europeus.
Fonte do texto: http://www.institutoliberal.org.br/autor/hiago-rebello/
Nenhum comentário:
Postar um comentário