O socialismo sempre foi defendido por muita gente rica, e quem leu meu livro sobre a esquerda caviar não ficará surpreso com isso. O foco obsessivo na desigualdade é um luxo de quem já deixou a pobreza para trás há muito tempo. Quem é pobre prefere focar no crescimento, na criação de riqueza. Já parte da elite abastada gosta de expiar seus “pecados” com o discurso igualitário.
Esse foi o tema da coluna de Marcos Troyjo hoje na Folha, criticando a nova sensação das esquerdas, o economista francês Thomas Piketty. Troyjo, que tenta fomentar o empreendedorismo nos países emergentes, mais especificamente nos BRICs, condena a bandeira socialista levantada por milionários ou por intelectuais de países ricos. Ele está mais preocupado com a criação de riqueza, enquanto os ricos podem se dar ao luxo de debater apenas sua melhor distribuição. Diz ele:
Decepciona, em Piketty, não ver referência a “empreendedorismo”, “competitividade”, “start-ups”, “papel da inovação”, ou à “destruição criativa” de Schumpeter.
A principal tensão do mundo contemporâneo não advém do conflito distributivo entre capital e trabalho. O cabo de guerra é entre empreendedores e burocratas, seja na forma da grossa camada de gestores cujo intuito é a autopreservação ou nas inúmeras esferas estatais que esclerosam o dinamismo econômico.
Para países como o Brasil, o grande desafio é encontrar seu próprio modelo de capitalismo competitivo que o permita pagar o preço da civilização.
Deixemos para amanhã manuais de instalação de um “Welfare State 2.0″, como o IPS ou o tijolo de Piketty. Concentremo-nos, agora, nas lições de Acemoglu e Robinson em “Por que as Nações Fracassam”.
No alvo! O problema não é o capitalismo, nem mesmo a desigualdade, e sim a burocracia excessiva, as estatais paquidérmicas, a carga tributária absurda, o “capitalismo de estado”. Falta mais empreendedorismo, mais investimento em “start-ups”, em empresas inovadoras e dinâmicas, mais meritocracia, mais liberdade econômica.
Pensar em adotar modelos ainda mais concentradores de poder e recursos no estado, em nome do combate à desigualdade, é dar um tiro no pé de nosso crescimento. É engessar nossa economia a ponto de punir de maneira insensível os mais pobres, que precisam de mais crescimento, não de esmolas estatais.
Só discordo de Troyjo quanto à possibilidade de um welfare state 2.0 funcionar nos países ricos. Nem lá isso funciona! Sim, os ricos podem se dar ao luxo de distribuir riquezas sem uma catástrofe iminente. Vivem de herança, que leva tempo até ser consumida.
Mas um dia acaba, se as galinhas dos ovos de ouro forem mortas. E são, sempre que o estado resolve que seu papel não é garantir as regras do jogo no livre mercado, e sim bancar o deus onisciente que vai distribuir recursos de forma mais “justa” por aí. Ou seja, nem mesmo os ricos suportam por muito tempo o socialismo igualitário, que dura até acabar o dinheiro dos outros, como dizia Thatcher…
Fonte: blog do Rodrigo Constantino
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