Estive
pessoalmente com Bernardinho somente duas vezes, e guardei dele a
melhor impressão possível, que já era boa antes, por meio da
figura pública. Com fala rápida e agitada, o treinador campeão do vôlei
brasileiro consegue transmitir valores e exalar liderança em seus
discursos e conversas, mas sempre preservando a fundamental humildade.
Comentei sobre uma de suas palestras aqui, com admiração.
Agora foi a vez de Alexandre Salvador
entrevistá-lo para as páginas amarelas da Veja desta semana. Na
entrevista, em que sua recente descoberta de um tumor maligno já
extirpado de seu rim é tratada pela primeira vez, sem sensacionalismo
algum, Bernardinho volta ao tema da liderança, explicando o que é
necessário para criar uma juventude com melhores valores, e ataca também
a corrupção em sua causa principal, a impunidade. Eis um trecho:
Tendo chegado hoje de Israel, um país
diferenciado quando o assunto é ética, confesso ficar ainda mais mexido
com esse discurso. Por que o Brasil abandonou tanto os valores éticos e
morais fundamentais para a construção de um país civilizado e
respeitado? Por que não conseguimos combater a impunidade que campeia e é
inclusive aceita por boa parte da população, como se fosse normal
roubar, mentir, delinquir?
A resposta exige um tratado sociológico,
cultural e histórico. Só sei que de nada adianta culpar sempre nosso
passado, abraçar um tipo de fatalismo pessimista, de que o povo
brasileiro sempre foi e sempre será assim mesmo, de que não há nada a
ser feito, pois esse é o caminho da desgraça.
Cabe justamente a elite liderar, incutir
nos jovens a importância do respeito às regras e ao próximo, o senso de
pertencimento a algo maior, que merece ser preservado, o processo
civilizatório no trato da coisa pública, enfim. Os esportes podem
ajudar, como outras atividades coletivas que ensinem a importância da
meritocracia, da responsabilidade individual, do “fair play”.
Mas o Brasil está virado ao avesso. A
corrupção se espalhou por todo canto, inclusive nos esportes, como
atesta o caso da CBV. Todos querem apenas “se dar bem”, não importa
como. As elites, quando podres, não conseguem criar nada além de
podridão. O sujeito pode ter um iate e curtir os balneários de luxo,
degustar dos melhores vinhos, viajar o mundo de primeira classe. Mas se
isso é possível apenas com dinheiro sujo, então ele só não pode gozar de
uma coisa: do nosso respeito.
Um povo que julga o sucesso apenas pela conta bancária, não importa como ela
foi conquistada, é um povo perdido, condenado. Precisamos de líderes
que busquem resgatar os valores éticos abandonados. Ou isso, ou o caos.
Rodrigo Constantino
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