“Apontar algum inconveniente que a
economia de mercado não foi capaz de eliminar não quer dizer que o
socialismo ou o intervencionismo sejam viáveis ou desejáveis.” (Mises)
Não são poucas as pessoas que, mesmo com
algum conhecimento de economia, defendem inúmeras medidas
intervencionistas por parte do governo. Alegam que o mercado é
imperfeito, ignorando que o Estado é formado por homens também.
Constatar imperfeições no mercado não é prova de que intervenções são
bem-vindas. O político não é um santo homem iluminado. Será, então, que
essas intervenções atingem seus objetivos reais? Será que elas melhoram a
situação?
Em primeiro lugar, é de fundamental
importância procurar analisar uma política intervencionista por suas
conseqüências como um todo; não apenas por seus efeitos de curto prazo,
mas também no longo prazo. Parece bastante óbvio isso, mas impressiona a
quantidade de gente que ignora tal recomendação. Sem uma análise mais
criteriosa, fica complicado determinar a causalidade dos fatos. Assim,
muitas vezes uma intervenção estatal gera benefícios imediatos enquanto
seus resultados maléficos irão surgir apenas com o tempo. Uma visão
míope poderá concluir que a intervenção era desejada, sem se dar conta
que as conseqüências nefastas no futuro tiveram causa atrás, na
intervenção. Isso é muito comum, mesmo entre economistas.
O funcionamento de uma economia de
mercado exige complexos cálculos racionais, sempre através da
especulação, já que o ser humano não tem conhecimento prévio do futuro.
Até mesmo a formação de estoques é uma especulação calcada em dados
disponíveis no mercado hoje, com o empresário esperando uma melhora dos
preços para poder vender seus produtos depois, em vez de “liquidar” os
estoques logo a preços menores. Em uma economia socialista, com
planejamento estatal e sem os meios de produção privados, tal cálculo é
inviável, ou praticamente impossível. Isso ficou claro na União
Soviética, cujo Gosplan tentava administrar os preços de milhares de
produtos. Como aconselha Mises, “quem não for capaz de formar a sua
própria opinião quanto ao difícil e essencialmente técnico problema do
cálculo econômico numa sociedade socialista deveria se abster de falar
sobre o assunto”. Nunca conseguiram refutar com argumentos os
economistas austríacos sobre tais pontos, mas adoram pregar soluções
milagrosas através da fé.
No capitalismo, onde a economia funciona
livremente, são os consumidores, e não os empresários, que determinam o
que deve ser produzido. Por isso a economia de mercado é chamada de
democracia dos consumidores. Estes determinam, através de uma votação
diária, quais são as suas preferências. E aquele que atender melhor os
consumidores será o empresário bem sucedido. Não é porque existem
destilarias que as pessoas bebem uísque; é porque as pessoas bebem
uísque que existem destilarias. Atender as demandas do povo é a função
das empresas. A competição livre entre elas é a garantia do melhor
atendimento. Não há como escapar das inexoráveis leis do mercado. A
alternativa é depositar em uma pequena cúpula de políticos poderosos as
escolhas, jogando todo o resto da população na escravidão.
Por isso, a “função social” de uma
empresa é justamente buscar o lucro. Se o indivíduo busca satisfazer seu
próprio interesse num contexto de respeito à propriedade privada e às
trocas efetuadas no mercado, estará fazendo o que a sociedade espera que
ele faça. Não é da benevolência do açougueiro que esperamos carne, mas
da busca de seus próprios interesses. Um laboratório que distribuísse
remédios de forma altruística, iria à falência, e nenhum remédio novo
surgiria. Alguns dizem que “no longo prazo estaremos mortos”, e pela
falsa visão de riqueza estática, defendem apenas uma melhor distribuição
dela. De fato, seguindo tal “lógica”, estaremos todos mortos mesmo! É
da busca dos interesses particulares de cada um que temos nossas
demandas atendidas no mercado. Produzir o melhor produto possível ao
menor preço viável é a “função social” das empresas.
Quando o governo adota medidas
restritivas, acaba favorecendo os produtores, enquanto uma política que
não interfere no funcionamento do mercado favorece os consumidores.
Nossas oligarquias locais foram protegidas com medidas restritivas no
passado, em nome do “nacionalismo”, sempre à custa do consumidor
brasileiro. Uns poucos aliados do governo ganham, todo o resto perde. O
brasileiro era obrigado a comprar carroças a preços de Ferrari.
Da mesma forma, medidas de controle de
preços provocam uma redução de produção porque impossibilitam o produtor
marginal de produzir com lucro. Com o nobre objetivo de limitar a alta
de preços, o governo consegue apenas esvaziar as prateleiras, como vimos
em todas as nações socialistas. O salário mínimo é outra intervenção
similar, impedindo que trabalhadores dispostos a trabalhar por menos
tenham empregos. A conseqüência é o aumento do desemprego. A natureza é
dura, mas as leis de mercado não podem ser alteradas por papel e caneta
do governo.
São infinitas as formas de intervenção
estatal. Taxar mais pesadamente as rendas maiores é muito comum, mas
apenas impede a formação de capital eliminando a tendência de aumentar a
produtividade marginal da mão-de-obra, que por sua vez aumenta os
salários. Um sistema tributário que servisse aos verdadeiros interesses
dos assalariados deveria taxar apenas a parte da renda que estivesse
senso consumida, e não a que estivesse sendo poupada ou investida.
De fato, a economia de mercado recompensa
aquele capaz de servir bem os consumidores. Mas isso não causa nenhum
dano a estes, só os beneficia. Apenas uma pequena minoria faz uso da
liberdade de criação artística e científica, mas todos ganham com ela.
Quem tem luz elétrica, forno, geladeira, carro, computador, ar
condicionado, roupas, remédios, sabe bem disso. Infelizmente, como
alerta Mises, “o fanatismo impede que os ensinamentos da teoria
econômica sejam escutados, a teimosia impossibilita qualquer mudança de
opinião e a experiência não serve de base a nada”. E assim ficamos sem
todas as vantagens potenciais da mão invisível do mercado, que acaba
prejudicada pelo peso da mão visível do Estado.
Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.
via blog do rodrigo constantino
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