Nesta quinta, ocorreu na Fox News o primeiro grande debate das prévias presidenciais do Partido Republicano, que conta com um recorde de candidatos. A quantidade é tanta que o debate teve de ser dividido em dois, um preliminar de tarde e o principal de noite. O que impressiona é a vasta gama de opções dos americanos com viés mais conservador (em costumes) e liberal (em economia). A direita americana não teme dizer seu nome e defender, com vigor, seus valores.
A primeira coisa que se pode dizer da presença do “bufão” Donald Trump é que ela trouxe um clima jamais visto para as prévias Republicanas. Virou um verdadeiro “celebrity show”! O debate teve audiência e clima de final de Copa, e isso é ótimo para colocar em evidência os argumentos conservadores. Só isso já valeu sua participação um tanto histriônica até aqui, além do fato de ter colocado em pauta o tema da imigração.
Por outro lado, Trump afeta negativamente os conservadores por trazer um clima de maior contenda e briga também, num momento em que os americanos precisam de união da direita para eliminar de vez o avanço “progressista” e o risco de um governo Hillary Clinton, que seria a continuação do governo Obama em seus piores aspectos. Trump começou se negando a declarar que iria endossar o candidato Republicano escolhido pelo partido, não descartando uma corrida independente, o que claramente favoreceria a opositora Democrata. Foi vaiado nessa hora.
Trump atraiu tanta atenção inicial e desponta na liderança das pesquisas por alguns motivos. Em primeiro lugar, é celebridade, um bilionário excêntrico e conhecido pelo programa “Aprendiz”. Em segundo lugar, é visto como anti-establishment, ou seja, alguém de fora, que captura a indignação de todos cansados de Washington, da política em si, dos políticos. Em terceiro lugar, não tem “papas na língua”, e não se restringe pela linguagem politicamente correta, falando o que vem à cabeça. O povo gosta disso, cansado dos atores “corretos” do meio político.
Por fim, bateu como ninguém na questão da imigração, num momento em que os americanos estão vendo os crimes praticados por vários desses imigrantes ilegais que acabam protegidos pelas leis, como as “Sanctuary cities”, que impedem investigações federais que resultariam na expulsão de imigrantes pegos em crimes locais. Como Obama “abriu as porteiras” para os ilegais, a reação conservadora é imediata: imigrantes, sim, mas somente os legais, que venham buscar trabalho e oportunidade, não praticar crimes ou viver à custa do estado.
Além do tema da imigração, a questão do aborto foi muito debatida, já que o escândalo envolvendo a entidade Planned Parenthood, com vídeos chocantes de funcionários confessando a venda de partes dos fetos abortados, chocou a nação. O aspecto moral é muito relevante para os americanos em geral, e os diferentes candidatos tiveram que deixar claro para o eleitorado conservador que não toleram concessões nessa área.
Não vou entrar nos detalhes das qualidades e defeitos de cada um dos dez participantes do principal debate, mas basta dizer que, de certa forma, todos eles seriam quase um sonho para um conservador brasileiro se fossem candidatos no Brasil. É essa a sensação que fica: certa inveja branca dos americanos, por terem tantas opções conservadoras, enquanto nós buscamos, desesperados, um único nome razoável. E por favor, não venham com Bolsonaro ou mesmo Ronaldo Caiado, pois por mais que sejam políticos sérios e com viés de direita, ainda precisam comer muito arroz com feijão para chegar no patamar desses nomes americanos, em termos de embasamento, princípios, clareza moral e defesa do liberalismo econômico.
Essa será talvez a eleição mais importante dos Estados Unidos nas últimas décadas. O que está em jogo é a disputa do tipo de nação que se pretende, após grandes estragos causados por Obama, alguém que se recusa a enxergar a América como excepcional e que deseja mudá-la “essencialmente”. Os Republicanos desejam, ao contrário, resgatar a velha América, aquela que era a terra das oportunidades e das liberdades, a casa dos bravos, a liderança do mundo livre e civilizado, motivo de orgulho para seus cidadãos patriotas.
Reduzir o papel asfixiante do estado na economia e na vida desses americanos será, portanto, o grande desafio. Voltar a respeitar o federalismo, em vez de atropelar as leis e a Constituição para impor suas vontades de cima para baixo, como vem fazendo Obama, é a grande meta. O mais alinhado com essa visão parece ser Rand Paul, o mais liberal (no sentido clássico) entre os conservadores. Em certo momento disse que quer resgatar o “Bill of Rights” dos “pais fundadores”, um objetivo sem dúvida nobre – e gigantesco.
Meu amigo Paulo Figueiredo fez uma síntese perfeita da situação: “Resumo do debate presidencial republicano nos EUA: é exatamente o oposto de uma corrida no Brasil. Do time deles, qualquer um que ganhar está muito bom. No Brasil, a gente fica escolhendo o menos pior. Meu candidato favorito? O ideal seria juntar o preparo do Jeb Bush, a ideologia do Rand Paul e os colhões e energia do Donald Trump”. Seria imbatível mesmo!
Mas qualquer um deles, como colocou Paulo, estará de bom tamanho. É impressionante que mesmo aqueles que têm alma menos conservadora, como Chris Christie, de New Jersey, e o próprio Jeb Bush, o melhor do clã e ex-governador da Flórida, seriam vistos como “ultra-conservadores” pelo Brasil, dominado pela hegemonia de esquerda em seus 30 tons de vermelho, como disse Bruno Garschagen. São pessoas que não temem defender o legado de Reagan, por exemplo, e condenam sem rodeios os “progressistas” que criam cada vez mais dependência do estado na população mais pobre.
Vou acompanhar com curiosidade o desenrolar dessas prévias Republicanas, torcendo para que os Estados Unidos tenham um próximo presidente mais conservador, voltado para aquilo que a América tem de melhor a oferecer ao mundo: o “sonho americano”, os valores de meritocracia, responsabilidade individual e oportunidade para todos que queiram arregaçar as mangas e realmente trabalhar, correr atrás de um futuro melhor, com as próprias pernas, em sua legítima procura pela felicidade. O mundo precisa dessa guinada americana rumo às suas tradições louváveis.
Rodrigo Constantino
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