Como professora de Língua Portuguesa, tenho acompanhado o estupro da linguagem nossa de cada dia. Da alfabetização ao ensino básico, até os anos finais do ensino médio, bem como na própria Universidade.
Os materiais didáticos não fogem a tal regra, são sofríveis e, utilizando aquela estrovenga de palavra advinda do contorcionismo jornalistíco da Folha, o trem NÃO “despiora”.
Faço sempre questão de marcar reuniões com os pais, e mesmo que a escola peça uma, a minha sempre vem em separado. Devem me xingar de tudo um pouco: “megera”, “bruxa do 71”, “demonha”, “mal amada”, etc. Nem ligo. Na verdade, eu rio por dentro! É para o bem da humanidade!
Começo a fuzilar logo no início do ano, antes do primeiro bimestre terminar, e já adianto aos caros pais: “Sempre dá certo! Sigam-me os bons!”
Os pais saem conscientes que para ser meu aluno, geralmente adolescentes do 9° ano de Língua Portuguesa, Literatura e dos outros anos de Língua Inglesa, tudo vai ser com emoção e um pouquinho de dor.
Deu moleza pra moçada, dá nisso.
A começar pelo material, que eu escolho a dedo, mesmo os do MEC, leitura a leitura.
Aluno de Inglês precisa de dicionário, pedido já no início do ano.
O caderno tem de ser impecável, e eu olho um a um. Escolho livros para leituras bimestrais de níveis variados, faço fóruns, apresentações em grupo, provas individuais, exijo silêncio na hora da explicação. Se falar, apagadores voam de leve até tocar o quadro. Os olhos arregalam e tudo volta ao normal.
Técnica é tudo nessa vida.
Alguns alunos de Língua Inglesa têm pavor de chegarem atrasados: Precisam bater à porta e soltar em alto e bom som: “May I come in?”.
E para ir ao banheiro? E para beber água? In English, of course!
Se a aula é de Inglês, no meio do ano, seja em escola pública ou em privada, a aula será dada em inglês. Ouço várias reclamações no começo, gente correndo para fazer xixi, pedindo penico, se abanando, ficando da cor do Shrek ou faltando às minhas aulas. Nada como avisar a direção que o aluninho declinou e vai perder o Bolsa-Educação.
Pobres almas. Eles querem me ver dura e fria em cima de uma mesa… mas só até o fim do primeiro bimestre, sempre o mais difícil. Depois o trauma passa.
“Quer moleza? Senta no pudim”, digo a eles. Ou solto um gigantesco: “Vagabonds!“, carinhoso, claro, e eles riem de perder o fôlego.
Depois o negócio engrena. É sempre assim. Afago com uma mão e cobro duas vezes com a outra.
Na última escola pública em que lecionei, inscrevi minha turma de sexto ano numa competição de “Soletrando em Inglês” (Spelling Bee). Havia várias outras escolas públicas daquela região participando.
Como resultado, meu aluno Gabriel chegou à quinta posição. Orgulho danado e uma bolsa para frequentar um curso de idiomas com os materiais free of charge (gratuitos) por um ano.
Em novembro, eles já estão entendendo o que falo, respondem a perguntas mais básicas, e alguns se aventuram em raciocínios mais elaborados em inglês. Em noventa por cento das aulas procuro fazer assim: cartazes, textos, músicas e até interação com outras turmas.
English is for fun e, depois que eles entendem isso, me vêm com seus sorrisos de lata arreganhados. Com exceção dos tímidos. Estes se limitam ao “yes” e ao “no answer”.
E no final do ano, a apresentação para os pais? É toda em inglês, óbvio! Todos participam por livre e espontânea pressão. Afinal, é metade da nota do quarto bimestre em jogo. (Pegaram o macete?)
Tivemos a ajuda da banda da Polícia Militar e cantamos “Sweet Dreams” e “Happy”. Me senti uma maestra. Dou risada.
E os pais? Foram ao delírio. A direção? Nem acreditou. Sem falar dos convites do comandante da Polícia Militar para repetir a dose todos os anos.
E por que estou contando tudo isso? Porque a docência precisa ser feita com amor, dedicação e entrega. Fora isso, vira só um lugar para ganhar dinheiro, adoecer ou se tornar um chato de galochas a aporrinhar os coleguinhas na sala dos professores. Eu não aguento! Não foi para isso que me formei. Ou você vai e faz, ou fixe lugar quente em outro emprego e largue o magistério!
Não são poucos os energúmenos que batem no peito, cheios de si, e soltam aliviados um ““ah, é da ONU, tá tranquilo” ao verem impressos nas capas de seus livros os selos da UNESCO, do SESC, da Editora Abril, entre outras abominações. Pobres almas, não entendem bulhufas do que está acontecendo!
Não há militância nas minhas aulas, em minhas aulas há AULA.
Conheço aluno por aluno, faço questão de gravar todos os nomes e sobrenomes, para a criatura entender que quem manda naquela bagaça sou eu. Pais e mães, ao final de cada aula, já me esperam na saída da escola para me cumprimentar. Alguns me acompanham até o carro ou até o metrô dependendo do dia e da minha pressa. Já ganhei bolo, flores e olhares de admiração. O contrário também já se deu por conta de notas vermelhas nos boletins dos semideuses. Pais mimados, filhos mimados, sabia disso, não?
Chora na cama que é lugar quente, uai.
É dessa forma que a gente acerta a mão, sejam em escolas particulares ou nas públicas. Eles querem e precisam de limites. Precisam. E as escolas precisam de professores e não de militantes.
Quem se preparou para dominar 25, 30 ou até 40 alunos por turma sou eu e o trabalho é hercúleo, cansa e desanima algumas vezes. Por outro lado, dá um orgulho de ver aquele menino ou menina passando em vestibulares por todo o País ou mesmo se encontrando em outras profissões.
Com a mais pura certeza e escancaradamente abominando a tudo isso, tenho percebido, nestes anos difíceis em que tenho lecionado, a politização da linguagem com o objetivo de dominar os vulneráveis, os grupos de jovens e, principalmente, as crianças. Muitos coleguinhas se afastaram de mim, é óbvio, porque não milito sob suas cartilhas sindicais.
A Língua Portuguesa, como é e como chegou até aqui, já bastaria por si! Belíssima e preciosa.
Sou suspeitíssima em defender-lhe as estruturas, os arcabouços, a morfologia, a sintaxe, a estilística, pois, além de linda, é rebuscada, é formal, é culta, é histórica, é sonora, veio da Península Ibérica com seus muitos radicais latinos e gregos, e teve contribuições indígenas ou africanas sim, de fato. Aliado a tudo isso, os estrangeirismos (fenômeno comum a todas as línguas), acoplados ou embutidos em seu bojo vocabular, não a fizeram perder sua sonoridade, ela continua a mesma, dos mesmos mares nunca antes navegados de Camões, com sua epopéia artística bem representada em ‘Os Lusíadas’.
Camões lamentaria tamanha politicagem, Machado de Assis e Lima Barreto igualmente. Perguntariam: “O que fizeram com a língua portuguesa”?
Em tempo algum a linguagem foi tão estrangulada e utilizada para meios nefastos de minorias que se identificam sob a sigla LGBTQIA+ e similares. Por trás de cada passo dado na direção obscurantista de denegrir a nossa língua, que faz parte da nossa cultura, do nosso ser brasileiro, está a ideologia de gênero. Uma imbecilidade.
E está tudo amarrado porque eles não dão ponto sem nó. Quando o movimento gay diz que o gênero neutro precisa ser otimizado para “todes”, eu digo que isso é uma mentira infame, também entre meus amigos. Isso é falso, é desinformação. Típica coisa do teor das atuais políticas de esquerda, esses bichos-grilos fumadores de crack ideológico que se banham no pântano da ignorância. Enlameados por agendas e por suas imagens no espelho, envoltos por seus títulos de doutos doutores. Não falamos de gente com afeto pela democracia; são chatos e, pior, são perigosos. Comem pelas beiradas de toda brecha que a nossa Constituição permite com o aval de STF e afins.
Veja a força feita para catapultar a “língua neutra” com terminações para lá de duvidosas e desmarcar o sexo dos anjos com as terminações “e”, “us”, e “x”.
Em minha época de universidade, eu ouvia dos meus professores que a Língua Portuguesa era “machista”. É óbvio que NÃO! “Bom dia a todos e todas”, além de feio é redundante, ora bolas! É ridículo. Mas lá, já estavam eles há tempos querendo manipular a linguagem nos meios acadêmicos, na formação de novos professores, e já demonstravam a preocupação em doutrinar para dominar. As universidades eram e continuam sendo, para os esquerdistas, um meio de ganhar fama e adquirir adeptos.
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Sou o terror do nono ano. Do Ensino Médio também e, se bobear, do Ensino Superior.
Ninguém vai me culpar por não saber o mínimo na escrita, na coesão, na coerência, na gramática passo a passo, na morfologia, na sintaxe, ou seja lá em que aspecto da nossa língua portuguesa.
Se aplico penas duras para que meus alunos adolescentes escrevam bem e tentem dominar nossa língua pátria, com a língua inglesa não é diferente. Meus bons amigos professores sabem do que falo.
Nada como ir para casa com a sensação de dever cumprido.
E não perco meu sono.
Fonte: https://midiasemmascara.net/educacao-desabafo/