A Bíblia em um ano:
Marcos 10-13
Imagem: Disponível no blog Vinho de Rosas. |
“[...] porque pelo fruto se conhece a árvore.”
Mateus 12.33
Depois
de tantos safanões que a vida nos dá, aprendemos que muito mais eficácia há em fazer
do que em falar. Então, chega um tempo na vida da gente, em que palavras já não
nos convencem mais. A fase do encanto com belos discursos passou.
Por
mais que alguém nos faça bem, e por mais que gostemos desse alguém – seja um
familiar, um amigo, um grande amor – suas conversações já não nos tocam, por
mais bem elaboradas que sejam, tanto quanto o menor dos seus gestos pode
fazê-lo.
Fico
pensando em como as pessoas se sentem mal ao serem iludidas com palavras, mas
em quanta facilidade elas têm para fazerem o mesmo conosco. Podem ser diversos
os motivos que as levam a isso, mas certamente nenhum deles é maior do que o
motivo para que elas não o façam: é que nós todos possuímos sentimentos, e ser desiludidos
pelo cair das palavras ao chão machuca um bocado.
Numa
comparação matemática, palavras estão para poeira ao vento, assim como atitudes
estão para a firmeza dos solos, ainda que empoeirados. Palavras estão para música
que se ouve, assim como atitudes estão para música que se cria. Palavras estão
para bolhas de sabão, assim como atitudes estão para a água de sabão que lava
as roupas.
Li,
nesta tarde, que “a desnutrição
contínua da matéria pode matar rapidamente, mas a desnutrição permanente no
terreno das afeições causa morte lenta e dolorosa, porquanto contraria as leis
da natureza que nos projetou para dar e receber amor e carinho, ainda que em
pequenas porções”[1]. Ocorre que palavras, somente, não nutrem. Palavras somente não demonstram afeição, amor, carinho,
não é? Elas enfeitam, mas não traduzem esses vocábulos.
Lembro de Deus nos avisando que nós O encontraremos
quando O buscarmos de todo nosso coração (Jeremias 29.13). Nós não O
encontraremos se pronunciarmos Seu nome, nem se fizermos lindas declarações de
amor a Ele. Nós O encontraremos se O buscarmos, e isso significa atitude, bem
além dos hinos que simplesmente cantamos com nossas emoções e com nossas
palavras.
Lembro também de Jesus, exortando aos fariseus e
escribas que O honravam com seus lábios, mas mantinham seus corações bem
distantes do Senhor (Marcos 7.6-7). A beleza das suas tradições e a rigidez dos
seus sermões não gritavam tão alto quanto suas atitudes negligentes e
inescrupulosas.
Palavras, palavras, palavras...
O mundo está cheio delas. Bocas fartam-se de
palavras e mais palavras. Mentes têm dificuldade em decidir quais palavras
deverão ser ditas, face sua imensidade. Mãos, porém, seguem quase vazias, realizando
uma grande aradura no mundo e uma pequena semeadura, no que tange à veracidade das
oratórias.
Mas palavrórios idealizados se esvaziam quando
confrontados com a verdade. E a verdade afirma que as palavras revelam apenas o
que está acontecendo em nossos corações (Mateus 12.33-34): Corações mentirosos,
palavras mentirosas, poucas atitudes convincentes. Corações sinceros, palavras sinceras,
mais atitudes que palavras.
Palavras, no seu sentido mais afetuoso, são muito
bem vindas. Em poesias, em contos, em canções, em comícios. Não em
relacionamentos, nem em relação a sentimentos, tampouco em volta de princípios.
Porque são atitudes – e não palavras – que determinam o valor que nós temos e
demonstram quem, de fato, nós somos.
[1] Fátima Irene Pinto. Trecho do poema Abatimento (2012).
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