Todo liberal e conservador está
acostumado: quando o oponente marxista fica sem argumentos, o que ocorre
sempre, ele puxa da cartola a acusação fulminante: fascista! A esquerda
latino-americana, ela mesma muito similar ao fascismo em diversos
aspectos, adora acusar os adversários ideológicos de fascistas. Mas isso
não faz o menor sentido.
Mussolini, que foi socialista em sua
juventude, tinha pontos de vista que fariam vários esquerdistas
“modernos” vibrarem de emoção. Por outro lado, como mostrei em meu
último artigo no GLOBO,
Marx e Engels eram imperialistas arianos e racistas, o que seria
suficiente para que qualquer marxista, tivesse lido Marx ou gozasse de
honestidade intelectual, acusasse o próprio mentor e guru de fascista.
Hoje, um artigo
publicado no GLOBO, de Christian Caryl, faz um resumo razoável do que é
o fascismo, expondo justamente o abuso que fazem do termo de maneira
indevida. Seguem alguns trechos:
“Tudo no
Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado.” A frase é de Benito
Mussolini, uma das primeiras pessoas a falar com aprovação de
“totalitarismo”. Fascistas acreditam no Estado porque o veem como a
manifestação lógica da vontade de uma nação de afirmar e defender seus
direitos coletivos. Assim, sindicatos, clubes e a imprensa deveriam ser
subordinados ao governo.
[...]
Foi o
fascismo que nos deu a noção de um líder todo-poderoso, carismático — o
Duce ou o Führer — que pessoalmente encarna os anseios da nação. (O
comunismo também tinha seu Grande Timoneiro e seus Jardineiros da
Felicidade, mas mesmo esses personagens sobre-humanos ainda estavam
supostamente seguindo os ensinamentos de um certo filósofo judeu
alemão.) Muitos autocratas pós-1945 — vem à mente o argentino Juan Perón
— aprenderam com esses modelos.
É digno de
nota que os movimentos de protesto na Ucrânia ou na Venezuela não lutam
para instalar um líder em particular. Eles querem democracia — o oposto
do poder de um só homem.
[...]
Os fascistas celebram as massas — mas apenas quando elas são rigidamente organizadas em torno das necessidades do Estado.
[...]
Os fascistas
sempre veem a nação como ameaçada e sua tomada do poder é retratada
como um renascimento nacional que varrerá a decadência e a fraqueza.
[...]
Hitler e
Mussolini viam suas versões do “nacional-socialismo” como a única
alternativa válida a todas as outras ideologias políticas. Rejeitavam
violentamente o socialismo e o “capitalismo burguês”, enquanto diziam se
apropriar das melhores características de cada um.
[...]
É verdade
que alguns fascistas tentavam incorporar a Igreja Católica em seu
sistema ideológico. Mas Hitler, um zeloso anticlerical, sonhava com o
dia em que as massas pendurariam o Papa pelos calcanhares na Praça de
São Pedro.
Com isso em mente, fica mais claro que,
no fundo, são os críticos da esquerda radical, que odeiam os liberais e
conservadores, quem mais se assemelha ao fascismo. São nacionalistas,
autoritários, enxergam o estado como entidade quase divina, adoram o
culto à personalidade de um líder caudilhesco e populista, e gostariam
muito de ver todos os padres da Igreja “ultrapassada” pendurados em
praça pública.
Quem é fascista: Maduro ou o
ex-presidente chileno, Sebastián Piñera, um empresário liberal? Pois é.
Recomendo, para fechar, o excelente livro de Jonah Goldberg, Fascismo de Esquerda,
para não deixar mais dúvida de como, apesar de toda a retórica
contrária, parte da esquerda, a ala radical, possui extrema afinidade
com os ideais fascistas.
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