Não vou colaborar, com o meu silêncio, para a reinstalação da censura no Brasil, dê-se ela pela via judicial ou por força do barulho de grupos de pressão que repudiam a democracia. Quando rompi com a esquerda lá atrás, na juventude, foi exatamente por isto: não aceito que partido, grupo ou grupelho decidam o que posso pensar ou não — em especial quando essa patrulha se exerce na contramão de direitos garantidos por uma Constituição democrática. Desde o fim do regime de exceção, não percebo tão presente a patrulha. Corri um risco razoável sendo um adolescente meio bocudo contra a ditadura. A democracia nos permitiu o suspiro de alívio. Agora, ameaça-nos uma nova censura: não pensar de acordo com os que se organizam em grupos e hordas para definir “a verdade”. Não raro, é gente que depreda a liberdade que outros conquistaram. Modéstia às favas, estou entre esses “outros”. Volto ao caso.
Não sou evangélico. Não conheço Silas Malafaia. Nunca falei com ele. Discordo de algumas de suas teses, e, se ele leu uma coisa ou outra que escrevo, sabe disso. Mas tentar processá-lo por aquilo que não fez??? Acusá-lo de crime que não cometeu??? E tudo porque seus acusadores formam, afinal, um grupo hoje influente, organizado a tal ponto que o país pode votar uma dita lei anti-homofobia que é uma espécie de AI-5 Constitucional filtrado pela teoria da “diversidade sexual”? Aí, não dá! Não será com o meu silêncio.
Esses grupos militantes — gays, feministas, racialistas, minorias várias — são muito ligeiros em acusar seus adversários de “fascistas”, de “autoritários”, de “reacionários”, mas impressiona a rapidez e a desenvoltura com que defendem a censura, a punição de quem pensa diferente, a exclusão dos adversários do mundo dos vivos. Esses intolerantes são, em suma, intoleráveis.
Quem me acompanha sabe o que penso. Ninguém é gay porque quer — fosse escolha, todos seriam heterossexuais. Sou favorável à união civil, por exemplo. Mas considerei, e considero, absurda a decisão do Supremo que igualou legalmente os casais gays aos héteros. A razão é simples. A Constituição é explicita ao afirmar que a união civil se estabelece entre homem e mulher. Sem a mudança da Carta — o que só pode ser feito pelo Congresso —, o Supremo legislou e fez feitiçaria constitucional. Atrás desse precedente, podem vir outras “interpretações criativas” da nossa Lei Maior.
De fato, a tal Lei Anti-Homofobia um mimo do autoritarismo, sob o pretexto de proteger uma categoria. Entre outros absurdos, um chefe ou dono de uma empresa, ao dispensar um funcionário gay ou ao não contratar um candidato gay, teria de provar que não age movido por “homofobia”. Uma lei que torna, de saída, suspeita a esmagadora maioria dos brasileiros não é uma boa lei. De resto, ela impõe restrições a convicções religiosas, sim!
A proteção a minorias não pode ser maximizada a ponto de pôr em risco direitos fundamentais — entre eles, a liberdade de expressão. Esse caso envolvendo Malafaia me incomodou especialmente porque é preciso pôr um ponto final à ousadia dessas hordas fascistoides — fascitstoides, sim! — que saem por aí satanizando pessoas na Internet, atribuindo-lhes coisas que não disseram e não escreveram. Eu mesmo sei que sou saco de pancada de alguns grupos militantes — e da rede suja alimentada por dinheiro oficial. É claro que toda essa gente tem motivos de sobra para me detestar. Mas que o fizessem, ao menos, com coisas que realmente me pertencem, que saíram do meu teclado. Não! Em nome do que dizem ser a “democracia”, a “igualdade de direitos”, “o combate ao preconceito”, mentem de forma deslavada, metódica, decidida.
Abaixo, publico o vídeo de Malafaia em que ele critica a decisão dos gays de levar os “santos homoeróticos” para a avenida. Ninguém precisa concordar, reitero, com a sua análise, o seu estilo, as suas escolhas. Mas será mesmo que ele pregou agressão física aos gays? Vamos ver. Volto em seguida.
VolteiEm 1min27s, criticando o silêncio da imprensa diante da agressão cometida contra os símbolos católicos, o pastor afirma: “E a imprensa não diz nada. Não baixa o porrete”. Ora, é óbvio que ele não está censurando a imprensa por esta não ter batido nas lideranças gays, certo? “Não baixar o porrete” quer dizer, simplesmente, não criticar, omitir-se, silenciar.
Malafaia conta que é alvo constante de sites gays, que o chamam de “doente” e que exploram a sua imagem, associando-o a coisas não muito boas. A gente sabe bem como é isso. Aos 2min26, referindo-se a interlocutores que lhe recomendam que processe seus detratores, ele conta o que lhe dizem: “Pastor mete o pé; entra contra eles [na Justiça]“. E emenda: “Eu lá vou perder meu tempo com isso?” Evidentemente, não estão recomendando a ele que chute as lideranças gays, mas que recorra à Justiça.
Aos 3min22s, Malafaia se refere explicitamente à Igreja Católica. Assim: “É pra Igreja Católica entrar de pau em cima desses caras, baixar o porrete em cima, pra esses caras aprenderem. É uma vergonha. Protestar, sabe? Pra poder anunciar… Botar pra quebrar. Pagar em jornais notícias! Não querem dar? Paguem aí vocês da Igreja Católica, botem notícia pro povo saber. Isso é uma afronta, senhores! É o que eles querem! Depois querem chamar a gente de doente. Quem são os doentes, afinal de contas, que não respeitam a religião de ninguém, que debocham da religião dos outros, que debocham dos outros? Quem são os doentes?”
Resta escandalosamente claro que expressões como “baixar o porrete” e “entrar de pau” sugerem uma reação no terreno da comunicação. Ele é explícito ao sugerir que a Igreja Católica pague anúncios na grande imprensa protestando contra a ofensa. É isso o que quer dizer “baixar o porrete”.
PreconceitoCadê o incitamento à violência? Cadê a discriminação? Cadê a homofobia? Então os militantes gays — que trato como grupo distinto dos cidadãos gays — podem não só vilipendiar símbolos católicos (e não estou sugerindo medidas legais contra eles, não! Mas têm de aguentar a reação da sociedade, certo?) como agora têm o poder, também, de decidir o que é e o que não é crime porque conta com um Ministério Público sensível à sua causa? Ora, vão plantar batatas!
Até o senador Lindberg Farias (RJ), que é do PT — e isso quer dizer que não é da minha turma ideológica —, num rasgo de bom senso, afirmou que Malafaia não tinha incitado a violência coisa nenhuma. Foi alvo de um protesto veemente do setor GLTBXYZ do partido. Na carta que lhe enviaram, curiosamente, nem entram no mérito da acusação. Contentam-se em tratar o pastor como inimigo. Vale dizer, se é inimigo, que importa que possa ser injustamente acusado?
EncerrandoNão vou silenciar diante disso! Posso discordar de Malafaia em muita coisa. E daí? Mas concordo plenamente com o seu direito de dizer o que pensa. Mais ainda: concordo que ele deve arcar com o peso do que disse — como qualquer um de nós —, mas jamais com o peso daquilo que não disse.
Agora que vi o vídeo, digo com todas as letras: a ação do Ministério Público é ridícula. Serve apenas para alimentar a militância com uma causa. E se trata, obviamente, de mais uma tentativa de molestar quem não reza segundo a cartilha. O MP não é polícia do pensamento. E me parece que deve ser, sim, apurada a falha funcional de quem mobilizou recursos públicos para mover uma ação que se caracteriza, por seus próprios termos, como uma falsa imputação de crime.
O movimento gay tem todo o direito de combater as ideias de Malafaia — como reivindico o direito de criticar as coisas de que não gosto. Mas que tal fazer um embate honesto de pontos de vista? O único tratado com preconceito, até agora, nessa história é o pastor. Odiar o que ele diz é um direito. Tentar processá-lo pelo que não disse é coisa de ditadores, de totalitários, de intolerantes.
Recomendo aos comentaristas que se atenham à natureza do debate. Os homossexuais, a homossexualidade, as religiões, a religiosidade, os evangélicos ou os católicos não estão em questão. Estamos tratando de direitos fundamentais, da liberdade de expressão e da mobilização do estado para punir quem não cometeu crime.
Fonte: Reinaldo Azevedo
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