Walid Shoebat
Comentário
de Julio Severo: Compreendo a revolta de Shoebat, um palestino que havia sido membro da
Irmandade Muçulmana, ao ver o
estado do protestantismo nos EUA, que outrora eram a maior nação protestante do
mundo. Grandes denominações protestantes americanas (presbiteriana,
luterana, anglicana, etc.) ordenam pastores gays e fazem boicotes contra
Israel. Se Shoebat vivesse no Brasil, ele também poderia ver a apostasia da
CNBB, que tem levado a maior parte das congregações católicas no Brasil no
conto da sereia da Teologia da Libertação, sendo causa direta da vitória do PT
e outros partidos socialistas no Brasil. Claro que a Igreja Católica no Brasil
não faz, por exemplo, o que faz a
Igreja Presbiteriana (PCUSA): apoiar o “casamento” gay. Mas com seu papel
fundamental de antigo apoio ao PT, a CNBB e seus bispos apoiam o “casamento”
gay, quando o PT, seu filhote, o apoia. Vendo da perspectiva apenas do que está
acontecendo nos EUA, Shoebat desanimou e se revoltou contra o protestantismo
nos EUA. Ele foi de um extremo ao outro, chegando a “agradecer a Deus” pelo
fato de que no passado os católicos “esmagaram” os heréticos, inclusive os
seguidores de João Huss e John Wyclif — considerados precursores de Lutero. (E
parece que Shoebat se esqueceu de mencionar que os judeus também foram vítimas
da implacável Inquisição católica, que lhes saqueava tudo: casas, dinheiro,
propriedades, trabalho, etc.) Ele cita Lutero e seu antissemitismo, mas ignorou
o contexto social e cultural católico antissemita que havia formado Lutero.
Seja qual for o entendimento que Shoebat esteja buscando de igreja, a igreja
ideal de Jesus não mata heréticos. Se matasse, Jesus teria iniciado seus
apóstolos originais na missão de “esmagar” os fariseus e muitos outros
heréticos. Mas não. Com exceção de João, todos os apóstolos de Jesus foram
martirizados, isto é, eles estavam dispostos a morrer pelo Evangelho, em vez de
torturar e matar pelo Evangelho. Jesus não veio para “esmagar” os heréticos para
impor o Reino de Deus. Ele veio para pregar e demonstrar o Evangelho de Reino
de Deus por meio do amor, pois Deus é Amor. Ele veio também para morrer. Tenho
visto muitos cristãos americanos desapontados com a radical apostasia das
grandes igrejas protestantes nos EUA. É uma apostasia tão grande que está
levando muitos, inclusive Shoebat, à confusão. Mas no Brasil, Shoebat teria
igual desapontamento com relação ao imenso poder esquerdista da CNBB na Igreja
Católica do Brasil. Desconsiderando alguns pontos extremos que Shoebat adotou,
seu texto em boa parte tem conteúdo muito aproveitável. Eis o artigo de Shoebat:
Em toda a sua história, a Igreja
Católica travou guerra contra o islamismo. Contudo, hoje não tem nada a nos
oferecer. Essa é a típica resposta que recebo quando discuto história cristã
com muitos evangélicos. Eles me dizem que fora da Bíblia, nada há mais que
precisemos. Por isso, da próxima vez que houver um incêndio na sua casa, leia a
Bíblia, não se esqueça de orar enquanto estiver discando o número de emergência
e goze a fumaça e o fogo crescendo dentro de casa.
Acho difícil até mesmo fazer as
seguintes perguntas: Como é que foi a história cristã, que resistiu ao mal do
islamismo e o derrotou na Europa? Por que e como a Cristandade perdeu o Egito e
a Ásia Menor para o islamismo? E o que estamos fazendo em nossa época para
imitar ou não imitar essa história?
A pergunta que vale um milhão de
dólares a que ninguém consegue responder — embora receberei muitos comentários
de pessoas me condenando como herético — é esta: Por que Deus escolheu os
católicos para deter o islamismo em todas as grandes batalhas que visavam
destruir a Cristandade? Se alguém tem a resposta, por favor dê um passo
adiante.
O que a maioria dos evangélicos
cheios do Espírito Santo sabe sobre a Batalha do Lepanto, a Batalha de Tours, a
Batalha de Viena e a Batalha de Malta?
Se os “abomináveis” católicos não
tivessem lutado na Batalha de Tours, toda a Europa seria muçulmana hoje, como
na Ásia Menor. Seria o fim do Cristianismo, como o conhecemos. Hoje, a
Turquia (Bizâncio) é 99% muçulmana e parece bem provável que produzirá o
Anticristo, embora os evangélicos ainda achem que o Anticristo e a Meretriz
é a Igreja Católica Romana.
Por que é tão raro achar evangélicos
santos, cheios do Espírito, que não falam dessa história pintando-a como negra,
cheia de guerras, cruzadas e sede de sangue? Qual é a diferença então que há
entre o esquerdista teimoso e o evangélico cheio do Espírito? Ambos criticam
essa história. Indo mais longe, como muitos evangélicos e esquerdistas, os
muçulmanos também condenam essa história. Então, por que ecoamos a
interpretação deles ao praguejar contra os católicos?
Por quê? É por causa desses “abomináveis”
católicos que defenderam a Cristandade e salvaram os protestantes da total
aniquilação? Será que os católicos fizeram algo certo, como lutar contra os
abomináveis muçulmanos e frustrar os planos deles de aniquilar a Cristandade?
Em todas essas batalhas não havia
nenhum protestante vindo para ajudar a salvar a Europa e os estados
protestantes abstiveram-se de ajudar ou até mesmo levantar um dedo. Eles
estavam ocupados demais fazendo estudos da Bíblia sobre como os “abomináveis”
católicos eram o Anticristo.
Talvez eu precise exercer o típico
hábito americano de falar sobre tais assuntos e buscar aprovação antes de fazer
minhas declarações. Não estou dizendo, pelo amor de Deus, que todos os
protestantes são maus. Contudo, toda vez que digo a palavra “católico,” os
evangélicos pulam de nervosismo e apontam para o céu dos católicos sem nem mesmo
investigar as montanhas de livros heréticos, dignos de esterco, produzidos
pelos tão chamados evangélicos.
Será que a rica história católica é
um assunto maligno sobre o qual a Bíblia nos avisou a não tocar e a fazer pouco
caso das guerras católicas contra o islamismo? Até mesmo durante o nazismo,
houve mais desses “abomináveis” católicos que escolheram morrer nos fornos de
Hitler do que houve evangélicos e protestantes juntos. Será que esses católicos
estão condenados ao inferno apesar de terem feito uma escolha de entrar na
fornalha de Hitler? Qual dos dois agrada mais a Deus, os pastores amantes dos
sodomitas ou os católicos que amavam os judeus e morreram nos crematórios de
Hitler?
E então? Quem dará respostas às
minhas perguntas? Será algum adolescente evangélico ignorante, imaturo, cabeludo,
tatuado, de piercing no nariz, de argolas na orelha, zombador, inútil e
herético do Movimento Graça Grátis que instantaneamente, de sua própria
autoridade, me amaldiçoará e me excomungará porque não creio, como eles, que os
pecadores homossexuais devem ser recebidos na igreja como cristãos se não houve
confissão de arrependimento? Tais mutantes serão os futuros soldados que
ultrapassarão os Cavaleiros de São João e lutarão para frustrar as forças das
trevas e do diabo? O que eles utilizarão para lutar, os brincos que eles usam
no nariz e seus cabeços com pontas de espinho de porco de aparência estúpida?
Ou será que eles mesmos não são filhos do diabo?
Por que tenho de denunciar o papa
como herético enquanto fico em silêncio sobre o maior pastor dos Estados
Unidos, esse autonomeado papa do diabo chamado Rick Warren que assinou um
tratado com o islamismo dizendo que “nós adoramos o mesmo Deus”? Será que não
posso dizer nada sobre essa prostituta engordada que evita comprometer-se em
questões sobre homossexualismo, mas condena as Cruzadas nesse mesmo tratado?
Talvez essas coisas possam ajudar a
responder à minha pergunta, que já fiz mais de uma vez e ninguém parece ter
respondido: Durante minha caminhada de duas décadas em minha fé evangélica
cheia do Espírito Santo, Jesus disse: “Edificarei minha igreja e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela.” Veja bem, em dois mil anos, quem era essa
igreja? Foi a igreja perdida no tempo desde que os autores do Novo Testamento
morreram até a época em que o santo Martinho Lutero apareceu? Hitler usou “Sobre
os Judeus e Suas Mentiras,” texto demoníaco de Martinho Lutero, para ajudar a
livrar a Europa de seis milhões de judeus.
Os evangélicos respondem a esse
dilema dizendo que a verdadeira Igreja estava sempre ali, mas era perseguida
pelos “abomináveis” católicos. Entretanto, tais respostas são impossíveis de
provar. Talvez algumas perguntas no estilo de Jesus ajudarão a esclarecer essa
questão. Então, qual foi o movimento cristão que os “abomináveis” católicos
perseguiram? Foram os montanistas, os novacionistas, os donatistas, os
docetistas, os cátaros, os albingenses, os valdenses, os hussitas e os
seguidores de Wyclif? Será que esses movimentos eram a “Igreja” sobre a qual
falou Jesus? Eram eles que eram os crentes cheios do Espírito, que criam na
Bíblia e eram semelhantes aos evangélicos?
Não há historiador que lhe dirá que
esses movimentos chegam a se encaixar na definição de modelo evangélico “cheio
do Espírito.” Tais movimentos, que os católicos esmagaram (graças a Deus), eram
radicalmente não-cristãos, heréticos e gnósticos. Só os valdenses e os hussitas
eram de certo modo cristãos, mas mesmo eles estavam mais próximos do
catolicismo do que os evangélicos. Como um evangélico comum, cheio do Espírito
Santo, chegaria a saber a natureza desses movimentos? Afinal, só precisamos da
Bíblia e dane-se a história, certo? Ignorar a história é ignorar também a
Bíblia.
Até mesmo Martinho Lutero e o
movimento protestante, que veio com a Confissão de Fé de Westminster (CFW), que
é seguida por denominações protestantes, realmente ajudou os muçulmanos otomanos
e lhes forneceu cobre para construir canhões para destruir estados católicos
porque na opinião deles, a Igreja Católica era a Meretriz da Babilônia e o
Anticristo.
A CFW era tão importante que era
uma doutrina de fé fundamental e não era negociável. Se a Trindade era
essencial, da mesma forma era também essa crença com relação aos católicos.
Apesar de que o islamismo nega publicamente a Trindade, a CFW nunca mencionou isso.
Esse documento preferiu focar muito mais nos católicos, não nos muçulmanos,
embora os católicos tivessem impedido os muçulmanos de aniquilarem a
Cristandade. Até o próprio Martinho Lutero pensou melhor nessa questão e
confessou, depois de ler “Refutação ao Corão,” livro maravilhoso escrito pelo
católico Riccaldo Di Montecroce. Como resultado, Lutero mudou de opinião e de
acordo com ele o islamismo era o sistema do Anticristo, mas a Confissão de
Westminster nunca chegou a mencionar isso.
Sobre a teologia da graça versus
obras. Uma coisa é certa: Jesus deu o exemplo do homem que pratica boas obras e
o empolgado igrejeiro de Sua época quando Ele escolheu o samaritano, não o
fariseu que estava andando e se deparou com um homem nu e surrado por perseguidores
e nada fez, afirmando que ele estava fazendo a vontade do Senhor. Se pegarmos
esse exemplo, o samaritano daquele tempo seria visto do jeito que vemos um
católico: ele estava todo danado e confundia tudo. O samaritano nem mesmo
seguia Sola Scriptura e seu cânon da Escritura não tinha muitos livros. Ele até
cria em loucuras tipo o Templo estava no monte Gerizim, não em Jerusalém. No
entanto, Jesus honrou o samaritano, não o fariseu, que entendia a Bíblia e o
Templo de forma correta, mas não ajudou o perseguido.
Quando Jesus vier, Ele jogará no
inferno muitos “abomináveis” católicos e “abomináveis” evangélicos por não
ajudarem os judeus, os católicos, os evangélicos e outros (Mateus 25). Hoje,
nem os católicos nem os evangélicos estão fazendo muito para salvar os cristãos
massacrados em países muçulmanos. Consegue dizer o nome da organização que
resgata os cristãos hoje? Não existe NENHUMA. Tentamos ajudar e nossos
apoiadores são predominantemente armênios, coptas e assírios. Onde está o maior
pastor dos EUA? Onde estão os evangélicos e católicos dos EUA? Talvez eu
devesse seguir os coptas, os assírios ou até os armênios e jogar no lixo essa
versão americanizada do Cristianismo que ama a homossexualidade.
Embora acusemos essas igrejas
antigas de apego a livros deuterocanônicos como a Sabedoria de Salomão, que os
evangélicos rejeitam, em menos de cinquenta palavras, resume o propósito
inteiro da Encarnação do Filho de Deus e por que Deus se tornou homem:
“Quando
um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite mediava o seu rápido
percurso, tua Palavra onipotente lançou-se, guerreiro inexorável, do trono real
dos céus para o meio de uma terra de extermínio.” (Sabedoria 18:14-15 Bíblia de
Jerusalém)
Quem é esta “tua Palavra onipotente”?
Quem era a “Palavra”? Quando Ele se lançará “do trono real dos céus”? Quando
Ele será esse “guerreiro inexorável”? Essa não é uma profecia sobre Cristo
vindo para guerrear nos últimos dias? Contra quem Ele está guerreando? Contra os
católicos, que preservaram a Bíblia — inclusive a Sabedoria de Salomão? Será
que a sabedoria partiu da terra de modo que nenhum homem possa apontá-la? Será
que o Espírito Santo não está me levando a redescobrir tais profecias arrancadas
das Bíblias evangélicas dos Estados Unidos? A Igreja Copta que foi fundada por
São Marcos não era importante? Não foi Cristo que edificou a Igreja no Egito?
Até mesmo quando os portugueses entraram pela primeira vez na Índia eles
encontraram cristãos nativos que, para sua surpresa, declararam sua sucessão
apostólica desde São Tomé.
Quando me tornei cristão, entrei numa
igreja evangélica que me ensinou que em Daniel capítulo 2, as duas pernas eram
a Igreja do Oriente e a Igreja do Ocidente (Ortodoxa e Católica) e que essas
igrejas eram o espírito do Anticristo. No entanto, nunca acreditei neles, pois
examinei a Palavra de Deus e descobri que as profecias da Bíblia estavam
falando do islamismo. Era eu que não estava seguindo a Bíblia ou será que esses
evangélicos estavam interpretando a Bíblia de forma errada? Foram os
evangélicos que também interpretaram mal muitas coisas na Bíblia.
Rejeito todas as doutrinas que diferem
da Bíblia. Os santos protestantes têm apontados vários papas como o Anticristo,
e todas essas opiniões no final se mostraram falsas. Será que isso não é difamação
profana? Jesus não nos alertou com relação a tais difamadores malditos?
Nós proclamamos em voz alta: “Meu
povo perece por falta de conhecimento” quando nós, os que proclamamos tais
versículos, estamos perecendo. Há uma diferença entre conhecer a Bíblia e fazer
o que está na Bíblia.
Mas há também uma diferença entre
amar emocionalmente Jesus e fazer o que Jesus diz. Pregamos algo. Mas seguimos
o oposto; continuamos com falta de conhecimento.
Como consequência, vemos as coisas
a partir de certo prisma ótico que achamos que é santo, mas não é.
Walid
Shoebat é
um palestino ex-membro da Irmandade Muçulmana. Ele é também dono do site
Shoebat.
Traduzido
por Julio Severo do artigo do site Shoebat: Them ‘Damned’
Catholics
Leitura
recomendada:
Sobre
a Inquisição:
Outro
artigo do site Shoebat:
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