Uma das características do blog xapuri amax é de mostrar os bons trabalhos e personagens de destaque positivo, relegando a um segundo plano os personagens negativos (não mostrar rosto e nome destes por exemplo).
Hoje trazemos a tona uma personalidade marcante em nosso município, com uma historia na construção intelectual e moral, além estar completando 23 anos na rádio educadora de Xapuri.
Pessoas que trabalham, se doam e amam o que fazem merecem nossa atenção e reconhecimento, e na área de comunicação, seja na rádio ou no blog, Raimari é um grande mentor de nossa cidade com um trabalho que ultrapassa, inclusive, as fronteiras do Brasil.
Abaixo a entrevista feita a este que é digno de todo nosso respeito e consideração:
Quais as origens do cidadão Raimari?
Bem, nasci aqui mesmo, em Xapuri, no dia 20 de dezembro de 1971, mas cresci no seringal Novo Catete, onde meu pai, Antônio Firmino da Silva, era uma mistura de gerente, comboieiro e seringueiro. Lá vivi até por volta dos 7 anos de idade, quando viemos para a cidade, eu, minha mãe, Ricarda Figueiredo, e minha irmã Francisca, que hoje reside em Porto Velho. Ao chegar a Xapuri, fui matriculado na escola Plácido de Castro, que naquela época era conhecida simplesmente como Grupo Escolar, onde cursei as séries primárias e conheci professoras que contribuíram muito com a minha formação, como Ocinéia Soares, Janete Fadúl e Edicéia Barbosa, entre outras. Eram tempos em que a educação oferecida nas escolas, diferentemente de hoje, trazia consigo não somente a instrução, o ensino sistemático, mas também uma forte orientação disciplinar, moral e religiosa. Creio que os primeiros anos de vida escolar foram determinantes para que eu me tornasse a pessoa que sou hoje, um sujeito que se considera do bem, com muitos defeitos, como qualquer ser humano, mas com uma noção importante daquilo que é fundamental para conviver pacificamente na sociedade em que está inserido: equilíbrio pessoal, dedicação ao trabalho, respeito ao semelhante, mas também certa dose de atitude, do contrário haverá sempre alguém disposto a passar por cima de você.
Quanto tempo e como se iniciou o trabalho como comunicador na Rádio Educadora de Xapuri e no blog Xapuri Agora?
Confesso que desde pequeno, no seringal, era fã de rádio, costume que herdei de meu pai que era apaixonado pela Rádio Nacional da Amazônia e dos locutores Edelson Moura e Márcia Ferreira. Cresci ouvindo no rádio as músicas de Roberto Carlos e Luís Gonzaga, o Rei do Baião. Quando viemos para Xapuri, minha irmã noivou e casou com um radialista, Aílton Farias, filho do ex-prefeito Antônio Farias, já falecido. Com ele, por volta dos 10 anos de idade, frequentava os estúdios da Rádio Educadora 6 de Agosto e a cabine de transmissão dos jogos de futebol no velho estádio Góes e Castro. Então, desde a infância o rádio sempre esteve próximo a mim, fazendo parte da minha rotina, e essa relação se consolidou, se transformando em paixão, através de uma grande coincidência. No ano de 1988, chegou a minha casa um esposo de uma tia, irmã de minha mãe. Era o ex-prefeito Édson Dias Dantas, que entre um gole de café e outro, perguntou-me se não queria trabalhar, "pois com 15 anos eu já era um homem e não podia viver de braços cruzados". Sem pensar duas vezes, respondi que sim, e ele prometeu voltar quando tudo estivesse pronto. Depois de um mês ele retornou me chamando às pressas ao gabinete do então prefeito Wanderley Viana, de quem era uma espécie de guru. Depois de uma conversa rápida em que em momento algum Viana olhou na minha cara, fui orientado a me apresentar exatamente na Rádio Educadora 6 de Agosto, onde iria substituir um funcionário que acabara de ser removido por indisciplina. Ao chegar lá conheci figuras marcantes na minha vida, como o inesquecível Messias Cavalcante, já falecido, meu grande amigo-irmão Nader Sarkis e o hoje comerciante Sebastião Rodrigues, o Seba, que me ensinou as manhas da técnica de som. Os dois primeiros foram os que forjaram o locutor e, posteriormente, o radialista que sou hoje. É uma história comprida, mas que muito orgulha. De lá para cá já se foram quase 23 anos nessa profissão, que abaixo de Deus e dos filhos que tenho, é a coisa mais importante de minha vida.
E o blog?
Pode parecer infantil, mas o blog nasceu no início de 2007, motivado pelas minhas famosas e folclóricas brigas com o ex-prefeito Wanderley Viana. Ele me atacava por um programa de TV e eu rebatia através do meu programa de rádio. Mas encontrei dois problemas: o primeiro foi que a maioria dos ouvintes queria mesmo era ouvir boa música e se informar em vez de ficar ouvindo bate-bocas e desabafos. Tinha gente que gostava de ver o circo pegar fogo, mas a maioria não. O segundo foi a orientação da chefia do Sistema Público de Comunicação do Acre para que eu não promovesse embates políticos através da emissora. Como era fã do blog do jornalista Altino Machado, resolvi então criar um para enfrentar o Wanderley e o resultado foi uma série de ações judiciais que eu e ele trocamos até colocarmos ponto final nas altercações que, espero, não ressuscitem depois desta declaração. Mas ocorre que o blog caiu no gosto das pessoas, as visitas foram aumentando, fui pegando o gosto pela coisa e a página acabou por se tornar uma referência para quem procura informação sobre Xapuri, especialmente os filhos da terra que vivem longe de casa. Os daqui também adotaram o blog como leitura obrigatória, seja para se informar do que acontece na cidade, seja para se contrapor à minha maneira de pensar, que sempre fiz questão de deixar clara em minhas postagens. Mas a maior importância que o blog adquiriu foi a de se tornar fonte de informação para a imprensa acreana com relação aos acontecimentos da terra de Chico Mendes. E devo dizer que duas figuras contribuíram muito para o aperfeiçoamento do meu modesto blog, mesmo que de forma indireta. Um foi o próprio Altino Machado, pela qualidade profissional que sempre deve ser espelho para quem se mete a informar os outros. O segundo foi o também jornalista e não menos competente Archibaldo Antunes. A história com Antunes é um pouco engraçada. Ele tentava defender o ex-prefeito Wanderley Viana de minhas críticas, mas como era difícil defendê-lo com bons argumentos, ele pegava no meu pé em razão de alguns erros gramaticais. Suas reprimendas me alertaram para um vício do meu trabalho como radialista: confundir norma culta, obrigatória na comunicação escrita, com linguajar popular, até certo ponto aceito na comunicação oral. Claro que estou longe de escrever como Altino e Archibaldo, tanto na forma quanto no conteúdo, mas aprendi muito e procuro fazer sempre o melhor que posso para bem informar o leitor.
Em sua carreira, qual notícia mais lhe alegrou em divulgar? E qual mais lhe entristeceu?
A mais alegre foi, sem dúvida nenhuma, quando, aos 17 anos, anunciei num programa de rádio o nascimento de minha primeira filha, Alanna, em 1989. Eu substituía o locutor Uziel Alves, irmão do fazendeiro Darly Alves, em um programa sertanejo que ele apresentava no período da tarde. A mais triste, veja só a ironia do destino, foi a morte de Chico Mendes. Lembro-me que tive medo de dar a notícia e que tremia como vara verde. Mas tive também a grande alegria de fazer reportagens sobre o julgamento de Darly, acusado e condenado pelo assassinato, para várias emissoras de rádio do Brasil, como a Rádio Tupi, a Eldorado de Belo Horizonte, a Verdes Mares, de Fortaleza, a Brasil Central, de Goiânia, e a Gaúcha, de Porto Alegre. Claro que eu não era repórter de nenhuma delas, mas uma espécie de freelance que recebia pelos boletins enviados. Foi uma grande experiência para a minha carreira porque interagi, nesse trabalho, com profissionais do porte de Marcos Losekan, Sandra Passarinho, Roberto Cabrini e Ernesto Paglia, entre outros.
Nestes vários anos de Rádio há algum fato cômico que possa ser noticiado?
Foram muitos fatos engraçados que aconteceram nesses 23 anos de Rádio Educadora, mas um que jamais consegui esquecer foi quando o locutor Francisco Silva, muito conhecido em Xapuri como Chico Silva, que foi também pescador, fotógrafo, vendedor ambulante, entre outras atividades, apresentou um programa só para ele mesmo. Ocorreu que, enquanto tocava um bloco musical, Chico Silva literalmente tirou um cochilo no estúdio. O então diretor da rádio, o já falecido Messias Cavalcante, que estava fazendo o trabalho de sonoplasta, atrasou o relógio; ao acordar, já com a rádio fora do ar, Chico tocou o programa pra frente até o seu final. Ele jamais soube disso. Na verdade, relembrei esse fato para falar de alguns personagens importantíssimos da história da emissora que, além de Chico Silva, teve nomes marcantes na memória dos ouvintes, como o inesquecível Wálter Nicácio, também já falecido, o Nem ou Tatu, como é carinhosamente conhecimento, que durante muitos anos incorporou o "Coroné da 6", num programa matinal de muito sucesso. Outro sujeito que tem uma história importante na rádio é o Odahil Cardoso, que trabalha hoje com o grupo de escoteiros. Odahil é dono de histórias engraçadas, algumas impublicáveis, por sinal. Pessoas que fizeram parte de um passado muito bonito da velha Rádio 6 de Agosto.
Para os jovens que tem interesse em seguir carreira como radialista e/ou blogueiro, quais orientações seriam importantes?
Eu diria aos jovens de Xapuri que trabalhar em rádio é para quem tem amor pela coisa. O sujeito pode achar bacana ouvir o locutor fazendo o programa, mandando um alô pra gatinha, querendo ser o cara, como meu colega Joseni (rs, rs), mas o negócio não é tão fácil como aparenta, não. Primeiro, ganha-se muito mal; segundo, a comunidade de uma cidadezinha como Xapuri geralmente não compreende a missão de bem informar, o que faz com o radialista seja uma pessoa tão odiada quanto amada; e, por último, enfrenta-se a censura que continua a se manifestar mesmo que de formas dintintas daquelas do tempo da ditadura. Pra quem relmente demonstra gostar da coisa, eu volto a dizer que tem que sentir amor pelo que faz, tem que ter uma certa "vocação" e determinar isso como objetivo. Lembro-me do caso do Leõnidas Badaró, que sempre teve vontade de ser radialista. Ingressou na rádio de Xapuri, bolou um programa bom programa romântico, mas uma certa diretora comunicação da prefeitura tirou o programa do ar porque não ia com as fuças dele. Hoje, o cara é diretor de jornalismo da TV Aldeia e já foi da Rádio Difusora Acreana. É só um exemplo, mas que define bem esse mundo. Já escrever um blog é coisa que qualquer pode fazer, mas tem que se ter muita responsabilidade, principalmente quanto ao respeito pelas pessoas. A internet é uma arma muito poderosa, tanto para se fazer o bem quanto o mal. Vamos ficar com a primeira opção.
Na interação com a comunidade, o comunicador amplia sua percepção social. Segundo sua percepção, como o povo xapuriense tem se relacionado com seus governantes e que mensagem a população teria a dar a eles?
O problema do povo xapuriense, no meu modo de analisar a relação que a população tem hoje com as nossas autoridades políticas, é que ela continua a ser subestimada na sua capacidade de promover mudanças radicais em prol do seu próprio bem-estar. Noto que, no caso dos políticos, teima-se em pregar um discurso pronto que há muito já se desgastou e colocar em prática as mesmas velhas ações que já não alimentam sequer a esperança em dias melhores. E o povo fica olhando e resmungando. Chegam e vão embora do poder, alguns demoram até um bocado, mas o povo continua a ser tratado como mero coadjuvante do processo político, alvo de um eterno assistencialismo, que se manifesta de mil maneiras diferentes, viciando e deformando o verdadeiro conceito de cidadania. E isso ocorre por puro comodismo do povo que perdeu a capacidade de se indignar e de lutar por transformações. Escuto um dizer que o prefeito não faz trabalha, mas quando vai à prefeitura ele não cobra nada, mas sim pede algum favor para ele mesmo, um empregou para o cunhado ou uma receita médica para o avô. Outro diz que o vereador joga sinuca, mas não vai à câmara saber se nas horas vagas esse mesmo vereador está empenhado naquilo que prometeu em campanha. Quero dizer com isso com o povo tem uma mensagem a ser enviada, mas tem deixado ela presa na caixa de saída, preferindo ficar de conversa de janela com o vizinho.
Qual a matéria que o jornalista Raimari sonha em um dia divulgar?
Não sei bem que matéria gostaria de divulgar, mas queria que fosse relacionada com uma realidade em que crianças não morressem mais por falta de atendimento eficaz, que não fossem mais vítimas de todas as formas de exploração existentes na atualidade, que a juventude não fosse mais destruída pelas drogas, que a corrupção fosse apenas uma exceção à regra, que a violência fosse um efeito sem as causas que tanto conhecemos e que a família do trabalhador dono do menor salário do Brasil pudesse comer, vestir, estudar, morar, se divertir e ter saúde de qualidade, entre outros direitos fundamentais. Acho que jamais divulgarei algo assim, mas é preciso continuar acreditando.
Pra finalizar, que mensagem o homem, trabalhador, marido, avô, filho e pai de família Raimari Cardoso pode acrescentar para a população xapuriense?
Que ainda vale a pena acreditar em dias melhores, e que para alcançarmos isso é necessário que cada um faça a sua parte, independentemente daquilo que os políticos estejam fazendo ou não. Os políticos são responsáveis por muita coisa, mas não por tudo. Há uma parcela de contribuição que só o povo pode dar, trabalhando, educando bem os filhos, preparando-os para a vida, fortalecendo a família e voltando a estabelecer alguns valores que se perderam no tempo. Culpar apenas o Estado pela situação que estamos vivendo é desfaçatez, e esperar apenas dele as soluções de melhora é comodismo puro. Lembro-me de uma frase célebre de John Kennedy que traduzo assim: "Não pergunte o que sua cidade pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por sua cidade". Claro que isso não é para se levar totalmente ao pé da letra, mas é necessário que faça uma reflexão profunda sobre essa questão. Precisamos amar a nossa cidade na prática, assim como dizemos na teoria. Vou encerrar com outra boa frase, esta do meu amigo e colega jornalista Leônidas Badaró: “O povo de Xapuri tem que recuperar a sua capacidade de sonhar”.
"Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei"
Isaías 49:16