O protestantismo é comumente
acusado de ser o responsável pela modernidade e suas mazelas. Principalmente
aqueles que se apegam profundamente às raízes tradicionais, tendo tudo o que
passou como melhor do que o que há no presente, afirmam que foi a Reforma
Protestante quem inaugurou e possibilitou, com suas loucuras e desvarios, o
mundo moderno. Lembro-me, ainda, das palavras de Chesterton, que disse que o
mundo moderno, por causa do abalo religioso causado pela Reforma, está repleto
de antigas virtudes cristãs enlouquecidas. O que ele quis dizer, por um certo
prisma, é que a Reforma, ao mesmo tempo que trouxe liberdade religiosa para o
homem, lançou-o na perdição de sua própria insanidade.
A questão é mais ou menos simples.
Pense no próprio Deus e sua criação. Sabemos que Adão foi feito perfeito e sem
pecado. E foi criado também com liberdade. Esta liberdade, necessária e
permitida, foi, de alguma maneira, a causa de seu pecado e rebelião. No
entanto, o próprio homem é o único responsável por aquilo que fez. Ele não
pode, como de certa maneira tentou fazer, responsabilizar Deus por aquilo que
somente ele cometeu. Ninguém pode dizer que Deus é o responsável pelo pecado
humano só porque concedeu liberdade ao homem.
O mesmo raciocínio deve ser feito sobre
a Reforma Protestante. O que ela fez foi lançar sobre os homens a
responsabilidade de sua liberdade. O que ele fez com essa liberdade depois não
pode ser colocado na conta da Reforma. Culpar a Reforma Protestante pelos erros
posteriores, guardadas as devidas proporções, seria como culpar Deus pelo
pecado de Adão.
Eu não quero dizer que todas as
reivindicações e princípios reformados são irretocáveis. Apenas ressalto que se
alguma crítica deva ser feita à Reforma, deve se ater às suas bandeiras, seu discurso,
suas práticas, não às consequências que podem ter se manifestado por causa dela
ou a pretexto dela. É bem razoável a discussão sobre a livre interpretação das
Escrituras, sobre os sacramentos, sobre as formas religiosas; tudo isso é
salutar. No entanto, condenar o protestantismo por aquilo que foi feito de
errado sob seu nome é demais. Quem faz isso pode estar trazendo condenação
sobre a própria Igreja que pretende preservar.
Isso porque se a Reforma
Protestante é responsável por eventuais erros ocorridos depois dela, por que a
própria Igreja Católica não pode ser responsável pela Reforma, afinal, esta
apenas existiu por causa daquela! Aliás, a Reforma Protestante nada mais é do
que um movimento ocorrido no seio da própria igreja Católica. Não é porque
passaram-se 1200 anos que uma instituição não pode se responsabilizada por algo
que ocorreu dentro de seus domínios. Se a Reforma é culpada pela modernidade, a
Igreja Católica é culpada pela Reforma e, portanto, culpada pela modernidade.
Qualquer instituição ou movimento
apenas pode ser responsabilizado pelos princípios que sustenta pelas bandeiras
que levanta, pelas ideias que proclama. E basta ler os sínodos, as confissões e
os escritos dos reformadores para vermos que a loucura do mundo moderno não é
defendida por nenhum deles. Pelo contrário, os protestantes que se mantém fiéis
aos princípios da Reforma, assim como os católicos que permanecem sobre os
fundamentos do catolicismo, se encontram do lado oposto aos valores deste mundo
contemporâneo. Portanto, não são eles os responsáveis pelo que vivemos nestes
dias.
Se seguíssemos a mesma lógica de
alguns críticos do protestantismo, diríamos que, da mesma maneira que a Reforma
é culpada pelas doenças da modernidade, Deus é culpado pelo pecado, que nada
mais é do que a enfermidade humana.
Graças a Deus não pensamos dessa
maneira!
Fonte:
Fábio
Blanco
Divulgação:
www.juliosevero.com
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recomendada:
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