Da série nova “refutando o marxismo”, após a constatação de que
vários dessa espécie frequentam meu blog e na vã esperança de que possam
aprender algo, segue mais um texto mostrando a enorme falácia de um dos
pilares centrais da tese marxista: o polilogismo.
A falácia do polilogismo
“A humanidade precisa, antes de tudo, se libertar da submissão a
slogans absurdos e voltar a confiar na sensatez da razão.” (Mises)
Em 1944, o economista Ludwig von Mises escreveu Omnipotent Government,
onde explica o crescimento da idolatria ao Estado que levou ao nazismo
na Alemanha, fomentando um ambiente de guerras ininterruptas. Em uma
parte do livro, Mises explica uma das coisas que os nazistas pegaram
emprestado do marxismo: o polilogismo.
Até a metade do século XIX, ninguém contestava o fato de que a
estrutura lógica da mente é comum a todos os seres humanos. “Todas as
inter-relações humanas são baseadas na premissa de uma estrutura lógica
uniforme”, diz Mises. Podemos nos comunicar justamente porque apelamos a
algo comum a todos, a estrutura lógica da razão.
Claro que alguns homens podem pensar de forma mais profunda e
refinada que outros, assim como algumas pessoas não conseguem
compreender um processo de inferência em longas cadeias de pensamento
dedutivo. Mas isso não nega a estrutura lógica uniforme. Mises cita como
exemplo alguém que pode contar apenas até três, lembrando que mesmo
assim sua contagem, até seu limite, não difere daquela feita por Gauss
ou Laplace.
É justamente porque todos consideram este fato inquestionável que os
homens entram em discussões, trocam idéias ou escrevem livros. Seria
simplesmente impossível uma cooperação intelectual entre os indivíduos
sem isso. Os homens tentam provar ou refutar argumentos porque
compreendem que as pessoas utilizam a mesma estrutura lógica. Qualquer
povo existente reconhece a diferença entre afirmação e negação, pode
entender que A não pode ser, ao mesmo tempo, o contrário de A.
No entanto, apesar de esse fato ser bastante evidente, ele foi
contestado por Marx e pelos marxistas, entre eles o “filósofo
proletário” Dietzgen. Para eles, o pensamento é determinado pela classe
social da pessoa, e o pensamento não produz verdades, mas ideologias.
Para os marxistas, os pensamentos não passam de um disfarce para os
interesses egoístas da classe social a qual esse pensador pertence.
Nesse contexto, seria inútil discutir qualquer coisa com pessoas de
outra classe social. O que se segue disso é que as “ideologias não
precisam ser refutadas por meio do raciocínio discursivo; elas devem ser
desmascaradas através da denúncia da posição da classe, a origem
social de seus autores”. Se uma teoria científica é revelada por um
burguês, o marxista não precisa atacar seus méritos. Basta ele denunciar
a origem burguesa do cientista.
O motivo pelo qual os marxistas buscaram refúgio no polilogismo pode
ser encontrado na incapacidade de refutação por métodos lógicos das
teorias econômicas “burguesas”. Quando o próprio Mises demonstrou que o
socialismo seria impraticável pela impossibilidade de cálculo econômico
racional, os marxistas não apontaram qualquer erro em sua análise
lógica. Preferiram apelar para o estratagema do polilogismo, fugindo do
debate com a desculpa de que sua teoria era uma defesa dos interesses de
classe.
O sucesso dessa tática marxista foi incrível, sem precedentes. Foi
usado como “prova” contra qualquer crítica racional feita ao marxismo e
sua pseudoeconomia. Isso permitiu um crescimento assustador do estatismo
moderno.
Conforme Mises lembra, “o polilogismo é tão intrinsecamente sem
sentido que ele não pode ser levado consistentemente às suas últimas
conseqüências lógicas”. Nenhum marxista foi corajoso o suficiente para
tentar fazer isso. Afinal, o princípio do polilogismo levaria à
inferência de que os ensinamentos marxistas não são objetivamente
verdadeiros, mas apenas afirmações “ideológicas”.
Os marxistas negam essa conclusão lógica de sua própria postura
epistemológica. Para eles, sua doutrina é a verdade absoluta. São
completamente inconsistentes. O próprio Marx não era da classe dos
proletários. Mas para os marxistas, alguns intelectuais conseguem se
colocar acima desse paradoxo. Os marxistas, claro. Não é possível
refutar isso, pois se alguém discorda, apenas prova que não faz parte
dessa elite especial, capaz de superar os interesses de classe e
enxergar além.
Os nacionalistas alemães tiveram que enfrentar o mesmo tipo de
problema dos marxistas. Eles não eram capazes de demonstrar suas
declarações ou refutar as teorias econômicas contrárias. “Logo”, explica
Mises, “eles buscaram abrigo sob o telhado do polilogismo, preparado
para eles pelos marxistas”. Algumas mudanças foram necessárias para a
adaptação, mas a essência é a mesma. Basta trocar classe por nação ou
raça, e pronto.
Cada nação ou raça possui uma estrutura lógica própria e, portanto,
sua própria economia, matemática ou física. Pela ótica marxista,
pensadores como Ricardo, Freud, Bergson e Einstein estavam errados
porque eram burgueses; pela ótica nazista, eles estavam errados porque
eram judeus. O coletivismo, seja de classe ou raça, anula o indivíduo e
sua lógica universal.
Tanto o polilogismo marxista como o nacional-socialista se limitaram à
afirmação de que a estrutura lógica da mente é diferente para as várias
classes ou raças. Nenhum deles tentou elaborar melhor isso, tampouco
demonstrar como exatamente ocorria tal diferença. Nunca entraram nos
detalhes, preferindo, ao contrário, concentrar o foco na conclusão.
No fundo, o polilogismo tem todas as características de um dogma. Se
há divergência de opinião dentro da própria classe ou raça, ele adota um
mecanismo peculiar para resolver a questão: os oponentes são
simplesmente tratados como traidores. Para os marxistas e nazistas,
existem apenas dois grupos de adversários: aqueles errados porque não
pertencem à mesma classe ou raça, e aqueles oponentes da mesma classe ou
raça que são traidores. Com isso, eles ignoram o incômodo fato de que
há dissensão entre os membros da sua própria classe ou raça.
Deixo os comentários finais com o próprio Mises: “O polilogismo não é
uma filosofia ou uma teoria epistemológica. Ele é uma atitude de
fanáticos limitados, que não conseguem imaginar que alguém pode ser mais
razoável ou inteligente que eles mesmos. O polilogismo também não é
científico. Ele é a substituição da razão e da ciência por superstições.
Ele é a mentalidade característica de uma era do caos”.
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