sábado, 16 de março de 2013

Bem estar do adulto é determinado pela capacidade de manter relações sociais quando jovem, e não pela inteligência


Craig Olsson
 
O que faz uma pessoa sentir-se bem não é sua inteligência, mas a qualidade de relações pessoais que mantém. Esse é o resultado da pesquisa feita pelo professor Craig Olsson, da Universidade de Melbourne. Segundo o pesquisador, a capacidade de estabelecer e manter tais relações pessoais é aprendida na juventude. Para isso, é essencial que as escolas foquem não só no desenvolvimento intelectual, mas também no aprendizado de habilidades sociais: "Podemos desenvolver todas as maravilhas tecnológicas imagináveis ​​através de nossas habilidades acadêmicas, mas isso não satisfaz nossa necessidade de criarmos relações saudáveis com os outros e com o mundo, o que é essencial para nosso bem estar", diz Olsson, que é o doutor em psicologia e especialista na prevenção de desvios comportamentais,

Leia abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva ao Pensando Direito:

Sua pesquisa indica que as primeira relações de uma criança e adolescente, e não sua inteligência, é que são fundamentais para a felicidade na vida adulta. Por que isso acontece?
Primeiro precisamos entender o que é bem estar e felicidade. O conceito de bem estar tem dois significados. O primeiro é o sentir-se bem, maximizando nossos prazeres e minimizando nosso sofrimento (hedonismo). Essa é a primeira ideia que vem à mente da maior parte das pessoas quando pensam no que é felicidade.

O segundo conceito de bem estar é em relação ao propósito que temos na vida (eudemonismo), o qual foca em valores universais como o cuidado com o outro, bondade, compaixão e compromisso. Essencialmente, diz que na vida há coisas mais importantes do que o prazer em si.

Em nossa pesquisa, nós estudamos esse segundo significado de bem estar. Focamos especificamente no que nos faz encarar a vida de forma positiva.

Descobrimos que valores pró-sociais funcionam como uma ‘cola’ que fortalece relações positivas ao longo de nossas vidas, e que é na juventude que formamos o alicerce desses valores, quando os aprendemos e assimilamos.

Mas a inteligência não estaria correlacionada com a capacidade de construir e manter relação pessoais?
Nossos resultados sugerem que desenvolvimento acadêmico não está correlacionado com o desenvolvimento de relacionamentos positivos ao longo da vida. Se estivesse, apenas pessoas bem educadas teriam relações sociais saudáveis, o que não é verdade. Relacionamentos saudáveis ​​podem florescer em todos os tipos de configurações, incluindo aquelas baseadas na deficiência intelectual e extremos de pobreza. E isso é uma boa notícia porque significa que um relacionamento positivo está potencialmente disponível a todos.

Mas nossos resultados também indicam que, no fim da adolescência há, sim, uma relação entre desempenho acadêmico e relações humanas. E isso sugere que, naquele período da vida, a melhora do desempenho acadêmico aumenta a capacidade de conexões sociais. Isso significa que o sucesso acadêmico no final da adolescência leva a melhores conexões sociais, o que, por sua vez, aumenta o bem-estar daquela pessoa quando ela chega à fase adulta.

Tradicionalmente, a escola enfatiza o mérito intelectual e não os relacionamentos sociais.
As escolas são essenciais para estabelecer nossa capacidade de nos relacionarmos de forma saudável.  Elas precisam oferecer ao aluno um currículo social, oferecido em paralelo ao currículo acadêmico tradicional.

Além disso, as escolas são mais do que meros lugares de ensino, elas são ambientes em si. Esses ambientes podem modelar valores competitivos e elitista ou valores de fraternidade e generosidade. Mas note – e isso é muito importante – ensinar tais valores sociais não impede o sucesso dos jovens: apenas os ensina a não buscarem o sucesso a qualquer preço.

Uma sólida formação acadêmica é importante para a vida, mas uma educação que seja capaz de desenvolver nossa capacidade de nos relacionarmos com os outros é ainda mais crítica. Podemos desenvolver todas as maravilhas tecnológicas imagináveis ​​através de nossas habilidades acadêmicas, mas isso não satisfaz nossa necessidade de criarmos relações saudáveis com os outros e com o mundo, o que é essencial para nosso bem estar.

Existe um risco causado pela atual tendência de enfatizar competição ao invés da cooperação entre as crianças?
Cooperação não deveria ser vista como o oposto de sucesso. Na verdade, o sucesso é muito mais provável de surgir em um ambiente de cooperação do que em um ambiente de competição. Quando se compete, há sempre vencedores e perdedores; existe uma hierarquia de valores com base no desempenho: você só tem valor se vencer.

Mas se compreendermos que bem estar depende da qualidade de nossas interações sociais, chegamos a um resultado radicalmente diferente. A longo prazo, relacionamentos sociais, e não posse ou status, são muito mais importantes para o bem estar. Além disso, esses valores alimentam nossa automotivação, o que nos faz buscar a excelência, e não apenas o sucesso. Passamos a focar no resultado e não simplesmente em um objetivo

 Fonte: blog para entender direito

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