Há
casos em que tentar se justificar apenas agrava as coisas. Pior a
emenda que o soneto. Foi o que aconteceu com Caetano Veloso nesse
domingo. Usou seu espaço no GLOBO para se defender da acusação de oportunista ao posar com o rosto mascarado, mas o tiro saiu pela culatra. Diz ele:
Eu sou apenas um velho baiano mas moro
aqui há muitos anos e acho que proibir máscaras numa cidade como o Rio é
violência simbólica. E sugeri que no dia 7 todos saíssem com máscaras,
respondendo com beleza e sem violência. Daí eles me pediram para posar
com uma camiseta preta atada ao rosto para eles mostrarem a Emma, que,
segundo eles, gostou do meu texto sobre ela. Agora vejo aqui que eles
puseram a foto na rede e logo alguém tuitou que sou oportunista e incito
a violência. Não. Entendo que Black Bloc faz parte. Mas nem
anticapitalista convicto eu sou. E quero paz.
Será que este grande “intelectual” não percebe a diferença entre sair
de máscara no carnaval ou esconder o rosto em manifestações que têm
sempre terminado em depredação e violência? Será que Caetano realmente
pensa que essas duas imagens abaixo são equivalentes?
Usei legenda para ajudar o ilustre cantor na identificação de cada
caso. Ele parece confuso. Quem sabe assim ele compreenda que há máscaras
e máscaras, ocasiões e ocasiões? Tão preocupado com a “violência
simbólica” estava Caetano que não pareceu se importar com a violência
real das ruas, levada a cabo por delinquentes que ele aplaudiu.
Vejam: para Caetano, o Black Bloc faz parte. De que? Não fica claro.
Da democracia? Mas seus métodos são antidemocráticos. Do debate? Mas
jogar pedras não é debater. Faz parte de que exatamente? Gostaria que o
autor de O Leãozinho nos explicasse melhor.
Por fim, esta pérola: “Mas nem anticapitalista convicto eu sou”. Ufa! Vejam: nem anticapitalista convicto ele
é! Ainda não formou totalmente sua opinião, sabe? Depois de décadas
flertando com movimentos idiotas, como vetar a guitarra elétrica,
Caetano ainda precisa de mais tempo para avaliar se prefere os Estados
Unidos ou Cuba.
Enquanto isso, ele segue desfrutando daquilo que só o capitalismo
pode oferecer a artistas como ele: cachês em moeda forte, consumismo
burguês e ausência de censura. Como dizia Roberto Campos, esses artistas
e “intelectuais” de esquerda são filhos de Marx em uma transa adúltera
com a Coca-Cola.
Até Caetano descobrir se é anticapitalista ou não, que os vândalos do
Black Bloc quebrem e depredem a propriedade dos outros, mas não a
propriedade particular do indeciso músico baiano.
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/
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