O novo livro do filósofo Luiz Felipe Pondé, A filosofia da adúltera,
é um resgate fiel do pensamento de Nelson Rodrigues sobre a condição
humana. Em um dos capítulos, Pondé fala do medo como causa do
esquerdismo coletivista, que busca aniquilar o verdadeiro indivíduo.
Alguns trechos merecem destaque:
[...] crianças querem agradar porque
percebem sua fragilidade. Temos medo porque somos frágeis. Somos mesmo
frágeis, por isso ser um ex-covarde nos termos de Nelson é não ter medo
de sofrer. Esse problema ético é essencial, porque ele define de forma
direta a relação entre conhecimento e coragem, virtude rara na classe
intelectual, feita de gente pouco capaz de enfrentar riscos, de fato.
[...]
Com o advento do adulto retardado como
modo de vida (o retardamento é um modo de enfrentar o medo), os idiotas
sobre os quais Nelson tanto falava, inverte-se a ordem, e os alunos
passam a dominar os professores, e os filhos, a dominar os pais. O mundo
assume a face do jovem boçal, que finge saber alguma coisa além da
balada de fim de semana. Jovens que não gostam de arrumar o quarto
convencem todo mundo de que devemos “rearrumar” o mundo. Quem sabe, no
novo mundo, os quartos se arrumem sozinhos.
[...] existem varias formas de esquerda,
mas a patrulha ideológica permanece: a esquerda verde; a esquerda da
defesa dos animais (é estranho que normalmente quem defende os animais
defenda o aborto, assim como quem come um pedaço de pizza); a esquerda
que recicla; a esquerda psicanalítica (que casa Lacan, Adorno e
Foucault); a esquerda do politicamente correto, que quer quebrar a
espinha dorsal do debate público, fazendo todo mundo ter medo de falar,
escrever e pensar; a esquerda feminista, que quer todos os homens
castrados; a esquerda gay, que acha que todo mundo é gay; a esquerda
inteligentinha, que toma vinho chileno; a esquerda espiritualizada
budista ou latino-americana católica; enfim: a praga só piorou de lá pra
cá.
O que caracteriza essas pessoas é sua
solidariedade abstrata pelo sofrimento humano. Preferem ideias ao
sofrimento real. [...] Nelson percebeu como ninguém o mau-caratismo da
esquerda e sua moral abstrata.
[...]
[O canalha institucional] fala sempre no
coletivo, esmaga todos à sua volta, cuspindo regras e decisões
coletivas cujo objetivo é apenas se esconder de seu medo maior, sua
mediocridade individual. O enfrentamento indivíduo-indivíduo é seu maior
medo, porque sua individualidade é nula. Ser indivíduo é um ônus que
poucos suportam.
[...] os verdadeiros indivíduos são
caçados como lobisomens por todos os lados pelas artimanhas dos canalhas
institucionais, verdadeiros inimigos de qualquer coragem criativa no
mundo. E o socialismo adora a covardia, porque sempre anda em bando.
Foi o cantor Lobão quem resumiu bem a situação: “Frouxo unido jamais
será indivíduo”. Leiam o livro de Pondé. Sejam indivíduos corajosos!
+
A verdade sombria
Acabo de ver o filme “The Dark Truth” (2012), com Andy Garcia.
Hollywood engajada em seu melhor (pior) estilo. Grande corporação cruel e
insensível, disposta a se unir a grupos paramilitares latino-americanos
que saem matando inocentes, tudo para garantir a privatização de água
no local.
De um lado, os gananciosos e egoístas ricaços em busca de mais e mais
lucro. Do outro, pobres camponeses lutando apenas por seu direito ao
consumo de água, recurso natural que, se privatizado, deixará de ser
acessível aos mais humildes (talvez por isso o telefone celular tenha
ficado tão mais inacessível aos pobres depois da privatização, não é
mesmo?).
O nome do grupo de camponeses armados que lutava pela justiça? “La
vida campesina”. Sério! Para quem não sabe, a via campesina é o MST aqui
no Brasil. No filme, o líder é um ótimo rapaz, sensível que chora
quando mata um militar malvado por extrema necessidade de proteger os
filhos. Ele é chamado de “ecoterrorista” pela imprensa capitalista
atrelada ao “sistema”. É mole?
Não há como ver o filme e não sair com raiva da ganância desmedida
dos bilionários, dispostos a tudo só para garantir mais um bom contrato,
cujo investimento será financiado pela Goldman Brothers. Sério! O nome
da instituição é esse, quase nada parecido ao Goldman Sachs da
realidade.
Filmes engajados com esse tipo de visão de mundo, estamos
acostumados. O que decepcionou de verdade foi Andy Garcia como ator
principal. Caramba! O cara é vítima da ditadura cubana, de onde teve que
fugir com a família. Fez até um filme um tanto autobiográfico e pessoal
que é muito tocante, “The Los City”, que comentei aqui.
E agora vem fazer um filme disseminando a mensagem sensacionalista e
socialista de que o governo deve cuidar dos recursos naturais, caso
contrário os pobres serão explorados pelos ricos? Fala sério, Andy! Dê
uma olhada em seu país de origem para ver aonde essa mentalidade levou. O
governo “cuida” de todos os recursos da ilha. Não consta que os pobres
estejam felizes…
A verdade sombria? Hollywood, com cada vez mais raras exceções, virou uma máquina de vender mentiras.
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/
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