Controlada
pelo PT, a Fundação Banco do Brasil firmou convênios de R$ 36 milhões
com entidades ligadas ao partido e familiares de seus dirigentes. A
lista de organizações não governamentais, associações e prefeituras
beneficiadas está sob investigação da Polícia Civil do Distrito Federal.
O banco faz auditoria nos contratos e parcerias.
Como o Estado
mostrou na quinta-feira, a Delegacia de Combate ao Crime Organizado
(Deco) do Distrito Federal apreendeu documentos e computadores na sede
da fundação, em Brasília. Dois DVDs e um CD foram retirados do gabinete
do atual presidente da fundação, Jorge Alfredo Streit, ligado ao PT. Ele
foi candidato ao governo de Roraima pelo partido.
A posse
na fundação, em junho de 2010, foi prestigiada por quadros importantes
da sigla, entre eles cinco parlamentares e o então ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci.
Streit
sucedeu a Jacques Pena, filiado ao PT do DF, cuja administração foi
marcada por repasses a entidades ligadas aos seus parentes, agora sob
investigação. Com sede numa sala sem placa de identificação em Brasília,
que fica trancada em horário comercial, só a Associação de
Desenvolvimento Sustentável do Brasil (Adesbra) firmou parcerias de R$
5,2 milhões desde 2003. O diretor executivo da entidade, Joy de Oliveira
Penna, é irmão de Jacques e tem ligações com outras entidades
contempladas com recursos.
Filiado ao PT de Goiás, Joy também participa da Rede Terra, como registra documento da fundação, obtido pelo Estado.
Desde 2007, a entidade assinou convênios de R$ 7,5 milhões com a
fundação. Com sede em Cristalina (GO), é dirigida por Luiz Carlos
Simion, cujo irmão, Vilmar Simion, é coordenador executivo da
Programando o Futuro, outra ONG contemplada com mais R$ 4,9 milhões para
projetos de inclusão digital em Valparaíso de Goiás.
Os
irmãos Pena são conhecidos por levar para a fundação a República de
Caratinga, sua cidade de origem. Com a Associação dos Produtores Rurais e
Agricultores Familiares de Santo Antônio do Manhuaçu, sediada no
município, a fundação firmou convênio de R$ 1,05 milhão. A associação é
comandada por dois primos de Jacques e Joy. "Tem razão de estar
desconfiando, porque é parente, né?", admite o ex-presidente, atual
tesoureiro da associação e primo da dupla, Sérgio Pena de Faria.
Segundo
ele, o projeto desenvolvido na cidade, para aperfeiçoar técnicas de
produção agrícola, foi apresentado por outra entidade, mas a fundação
não a aceitou, pois a proponente tinha só dois anos de existência. Os
dirigentes, então, pediram que a associação a substituísse.
"Cedi
os documentos, mandaram para lá, onde que foi aprovado", conta Pena,
negando favorecimento. "Essa associação não é igual a gente ouve falar
aí que é só para desviar dinheiro. Pode dormir 'sono solto' que os
documentos estão direitinho. Esse projeto foi o mais vigiado do Brasil",
assegura, acrescentando que os fiscais da fundação fiscalizaram a
execução e que houve prestação de contas.
Para
Caratinga, a fundação mandou mais R$ 1,3 milhão para construir o Centro
de Excelência do Café na gestão do ex-prefeito João Bosco Pessine (PT). A
atual administração, do PTB, diz que teve de fazer obras adicionais
para completar o projeto. Pessine não foi localizado.
Denúncia. A
investigação da Polícia Civil começou a partir de denúncia de uma
servidora da fundação, que está sob proteção policial e da área de
segurança do Banco do Brasil. O órgão explica que as apurações são da
sua alçada, e não da Polícia Federal, pois a fundação recebe recursos do
banco, uma empresa de economia mista.
A
funcionária teria recebido ameaças após delatar suposto esquema de
desvio de recursos. Ela contou à polícia que a prestação de contas de
algumas entidades não era analisada adequadamente. Não está descartado o
afastamento do atual presidente da fundação, Jorge Alfredo Streit. A
expectativa no Banco do Brasil é de que as primeiras conclusões da
auditoria saiam neste fim de semana.
As
denúncias sob investigação integram processo sob sigilo que tramita no
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. A fundação
explica que não teve acesso aos autos. Recentemente, atendendo à
solicitação, enviou informações ao Ministério Público do DF. Do site do jornal O Estado de S. Paulo
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