Lembram-se
de Janira Rocha? É aquela deputada estadual do PSOL do Rio, que
comandava até esta segunda, o partido no Estado. Pois é. Escrevi um post
aqui com uma síntese do que andou fazendo esta valente. Entre outras
delicadezas, há uma confissão sua, gravada, em que revela que dinheiro
do Sindsprevi foi usado para financiar sua campanha e para financiar
também a legenda. Não custa lembrar: cumpridas as leis, tanto a deputada
como o partido podem ser cassados. Janira foi afastada hoje da direção
estadual da legenda. Era a presidente. Também era líder do partido na
Assembleia. Entre os papeis que compõem um dossiê elaborado por
ex-assessores seus, que tentaram extorqui-la, evidências de
financiamento irregular de boca de urna das campanhas dos deputados
federais Chico Alencar e Jean Wyllys. O primeiro chamou a coisa de
“papelucho”, indignado, claro! O outro, num tom baixo e profundo, diz
não saber de nada. O PSOL é o partido que comandou a invasão da Câmara
de Vereadores do Rio porque, sabem como é, não suporta corrupção.
Reitero: no partido, Janira é peixe graúdo.
Leiam o post que publiquei a respeito no dia 5 deste mês.
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Um PT mixuruca, com complexo de moralidade – Chefona do PSOL, aquela que insuflava greve armada de PMs, confessa que tomou grana de sindicato para financiar a própria campanha e o partido; ambos têm de ser cassados, segundo a lei. Agora vamos ouvir o que têm a dizer o Caetano Veloso, o Chico Buarque e o Wagner Moura
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Um PT mixuruca, com complexo de moralidade – Chefona do PSOL, aquela que insuflava greve armada de PMs, confessa que tomou grana de sindicato para financiar a própria campanha e o partido; ambos têm de ser cassados, segundo a lei. Agora vamos ouvir o que têm a dizer o Caetano Veloso, o Chico Buarque e o Wagner Moura
O preâmbulo, com os Varões de Plutarco
É claro que, no ambiente propriamente
institucional, o PSOL não tem muita importância, embora conte com três
figuras públicas que não hesitariam em pedir a própria canonização —
materialista, é claro! São figuras muito apreciadas por setores da
imprensa como expoentes da ética, da coerência e da moral
inquebrantável. Refiro-me ao deputado federal Chico Alencar (RJ), ao
senador Randolfe Rodrigues (AP) e ao deputado estadual Marcelo Freixo
(RJ), mais apreciado pelos socialistas do circuito
Leblon-Copacabana-Ipanema do que biscoito na praia. “Biscoito”, leitores
do Rio, é como a gente chama “polvilho” aqui em São Paulo… Freixo
passou a ser o queridinho do Chico Buarque, do Caetano Veloso e do
Wagner Moura, três profundos conhecedores do socialismo com liberdade. O
trio forma, assim, o “magister dixit” da sabedoria política. O partido,
reitero, é irrelevante na esfera institucional, mas sabe, como é
próprio das esquerdas, velhas ou novas, multiplicar a sua força,
aparelhando sindicatos de trabalhadores, representações estudantis e
movimentos populares. Parte da bagunça que se tenta eternizar no Rio é
obra do PSOL. O partido promoveu, por exemplo, a ocupação da Câmara de
Vereadores para impedir o funcionamento da CPI dos Transportes. É que o
PSOL acha que quase todos, com o próprio PSOL entre as notáveis
exceções, são corruptos. Em São Paulo, a legenda está no comando do
Sindicato dos Metroviários, volta e meia se metendo em ações de caráter
puramente político, a muitas estações distantes dos interesses da
categoria. Este é o preâmbulo em que apresento alguns Varões de
Plutarco.
A narrativa
Muito bem! Por que essa longa introdução?
Na terça passada, veio a público uma história meio enrolada. Dois
ex-assessores da deputada estadual do Rio Janira Rocha foram presos,
acusados de tentar extorquir R$ 1,5 milhão da parlamentar, que também
presidia a Executiva Estadual do PSOL e liderava o partido na Assembleia
Legislativa. Marcos Paulo Alves e Cristiano Ribeiro Valladão diziam ter
gravações que comprovavam que Janira havia desviado recursos do
Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social
(Sindisprevi), do qual foi diretora financeira, antes de se afastar para
disputar uma vaga na Alerj, em 2010. O flagrante foi armado com a ajuda
da secretária estadual de Defesa do Consumidor, Cidinha Campos. Janira,
boa esquerdista, tomou as precauções na sua mímica de socialista
incorruptível: já havia alertado o Ministério Púbico de que estava sendo
vítima de extorsão e advertido o presidente da Alerj, Paulo Mello
(PMDB).
Tudo muito
bom, tudo muito bem… Ocorre que a gravação que integra o dossiê dos
dois que tentaram extorquir esta expressão do “Socialismo com Liberdade”
confirma que Janira, de fato, desviou dinheiro do Sindsprevi/Rio com
fins eleitorais e para ajudar a criar o PSOL. VEJAM QUE COISA ORIGINAL,
NUNCA ANTES FEITA NESTE PAÍS: DINHEIRO DE SINDICATO, QUE DEVERIA ATENDER
ÀS NECESSIDADES DOS ASSOCIADOS E DA BASE QUE REPRESENTA FOI USADO PARA
PAGAR A CAMPANHA ELEITORAL DE POLÍTICOS DO PARTIDO E EM BENEFÍCIO DA
PRÓPRIA LEGENDA. Como vocês sabem, o PSOL, originalmente, é uma costela
rebelde do PT, que se queria a autêntica esquerda. Em certo sentido,
havemos de convir, nada é mais autenticamente esquerdista do que isso.
Prestem
atenção a esta fala de Janira, que está na fita, que ela diz ter sido
editada — as desculpas dos flagrados com a boca na botija não têm
ideologia são sempre iguais:
“Nós sentamos lá nas finanças [do
sindicato]. Pegamos o relatório do Conselho Fiscal e fomos atrás de
todas as informações. O que foi e não foi. O que foi para a regional A, B
C. Não tem nenhum companheiro de regional que tenha roubado nada, que
tenha ficado com dinheiro. Tem companheiro que está levando pecha de
coisas com o dinheiro. Mas ele nem ao menos chegou a ver o dinheiro. Ele
assinou (que recebeu), mas o dinheiro foi usado para ações políticas
que nós fizemos. Ou viajar de avião para o Acre é barato? Ou fazer
eleição na Bahia é barato? Ou fundar o PSOL foi barato? Ou dar dinheiro
para o movimento classista foi barato? Foi para ação política.”
Entenderam?
Ora, ora,
ora… Enquanto escrevo este texto, o Jornal da Globo noticia que a
Samsung lançou o smartwatch, um relógio que recebe mensagem de texto,
toca música, tira fotografia, faz e recebe ligações telefônicas… Mas
Janira? Ora, Janira está ali, ocupada em explicar que tomar dinheiro do
sindicato para financiar campanha eleitoral e fundar o partido, afinal
de contas, não é roubo. Os companheiros, como ela diz, não “roubam nada;
foi tudo para ação política”. Enquanto o Google lança os óculos
inteligentes, Janira enxerga um futuro socialista, compreendem?, mas com
muita liberdade! Uma lei esdrúxula, bem anterior ao smartwatch, do
tempo em que os pterodáctilos cruzavam os céus, garante aos sindicatos a
mamata do imposto obrigatório. Lula, então presidente, manobrou para
que o primitivismo fosse mantido.
A deputada
Janira, como vocês podem perceber, está até um tanto indignada com
falsas acusações. Ela não só não vê mal nenhum na coisa toda como, tudo
indica, considera muito natural. Mas fiquem calmos aí, que a confissão
vai ficar ainda mais explícita. Janira está irritada porque membros do
Conselho Fiscal do Sindicato estavam apurando se havia irregularidades.
Então ela afirma:
“Se
o Cristiano não intercepta o documento da Elba da Lagos (diretoria
regional do Sindsprevi/Rio), eu não estava mais aqui. A minha cassação
estava garantida da forma como ela respondeu. ‘Ah, eu fiz sim. Eu
assinei que recebi o dinheiro, mas não vi o dinheiro. Assinei a pedido
de uma assessora da deputada Janira. Esse dinheiro foi todo para a
campanha da deputada Janira’. Qual é o problema? Todos sabem que foi
dinheiro para minha campanha, para a campanha do Jefferson, do Pierre… O
problema é ter um documento em papel timbrado de uma regional do
sindicato de que o dinheiro foi para a minha campanha.”
Retomo
Não sei quem é o tal “Cristiano”, mas, dá
para perceber, trata-se de alguém que parece ter dado um jeitinho para
esconder a falcatrua. Sim, ela recebeu mesmo, diz de peito aberto, mas
não só ela: também o Jefferson (?), o Pierre (?)… A deputada acha tudo
normal, necessário, quiçá revolucionário. Ela só não quer saber de papel
timbrado. Isso não!
Quando
essa maravilha toda foi gravada? Segundo Janira, trata-se de uma
assembleia do Sindsprevi de 2012, quando se discutia se as contas de sua
gestão, entre 2007 e 2010, seriam ou não aprovadas. Como herança, esta
gigante da administração do socialismo com liberdade deixou uma dívida
com a Receita de R$ 8,3 milhões e empréstimos contraídos com pessoas
físicas (!!!) de R$ 1,3 milhão.
Na fita, ela faz uma síntese espetacular da gestão da diretoria a que ela própria pertenceu:
“Nós fizemos merda! Contratamos
uma porrada de gente para esse sindicato. O sindicato tem orçamento de
R$ 1,5 milhão e temos R$ 800 mil de folha de pagamento. Pegamos dinheiro
emprestado por fora das regras do mercado. Porque pegamos direto com
agiota. O que temos que fazer? Tem roubo? Não tem roubo. Mas quem tá de
fora não entende, não quer saber que é para ação política. Para eles, é
merda, é golpe!”
Entendi.
Está tudo muito claro. Janira também retinha uma parte do salários pagos
a assessores, mas sempre, fica claro, para “fazer política”. Em outro
trecho, este monumento moral alerta que é preciso fraudar a prestação de
contas do Sindsprevi. Literalmente: “A
gente pode botar no relatório que o dinheiro foi para atividades
políticas, mobilizadoras. Não pode dizer que foi para construção do
PSOL. Para eleger deputado. Isso não pode, isso é crime”.
Cassar Janira e o PSOL
Janira está certíssima numa coisa:
trata-se mesmo da confissão de uma penca de crimes. Ela recebeu doação
ilegal, de maneira confessa e inequívoca, o que resulta, segundo a lei,
em cassação de mandato. Mas não só ela. Também o registro do PSOL, se a
lei for cumprida, tem de ser cassado. Eu sei que o PSOL quer o
socialismo e que não reconhece os valores dessa sociedade burguesa e
coisa e tal. Tudo bem! Só que está estruturado como um partido, não é?
Seus parlamentares ocupam lugar na institucionalidade, e a legenda
recebe dinheiro do Fundo Partidário e dispõe de tempo na TV para os
horários político e eleitoral gratuitos, o que também custa dinheiro
público. Logo, é regido por leis, muito especialmente a 9.096,
que trata dos partidos políticos. Assim, sou obrigado a lembrar a esses
patriotas o que dispõe o Inciso IV do o Artigo 31 dessa lei:
Art. 31. É vedado ao partido
receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto,
contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive
através de publicidade de qualquer espécie, procedente de:
(…)
IV – entidade de classe ou sindical.
Combine-se o que vai acima com o disposto no Inciso III do Artigo 28, e o PSOL tem de ter seu registro cassado:
Art. 28. O Tribunal Superior
Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão, determina o cancelamento
do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado:
III – não ter prestado, nos termos desta Lei, as devidas contas à Justiça Eleitoral;
(…)
Mas quem age? O Parágrafo 2º do mesmo Artigo 28 define:
§ 2º O processo de cancelamento é
iniciado pelo Tribunal à vista de denúncia de qualquer eleitor, de
representante de partido, ou de representação do Procurador-Geral
Eleitoral.
Assim,
qualquer eleitor pode fazer a denúncia. Mas espero que a
Procuradoria-Geral Eleitoral se encarregue de cumprir a sua tarefa.
Afinal, a fala da deputada do PSOL, que veio a público, não deixa a
menor dúvida.
Conhecida do blog
A deputada Janira é uma velha conhecida
deste blog. Escrevi dois posts sobre esta senhora quando, em 2012, ela
atuou como uma insufladora de greves na Polícia Militar. Ela foi
flagrada, então, numa articulação de uma greve nacional de policiais
militares.
Enquanto
isso, a Samsung cria smartwatch, e o Google, os óculos inteligentes. Nós
vamos lidando aqui com nossos pterodáctilos. Não pensem que o PT se
financiou ou se financia de modo muito diferente. Observem que até a
moralidade é a mesma: quando o roubo se dá em beneficio da causa, então
não se trata de roubo, mas de luta. Na festa da CUT, o presidente da
central recebeu os mensaleiros Delúbio Soares e José Dirceu e declarou
que tinha muto orgulho de tê-los lá.
O PSOL é
só um PT mixuruca, com complexo de superioridade moral e o apoio
charmoso do Caetano, do Chico e do Capitão Nascimento. Vai, Janira! Pede
pra sair!
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