Uma questão
que domina os debates brasileiros universitários é o emocionalismo travestido
de razão, de autoridade acadêmica, de diplomas ou simplesmente de boquinhas de
nojo. Na verdade, quando eu vejo as respostas da turma que protege um ilustre professor
de direito do Cesupa, tudo o que vejo é apenas uma papagaiada corporativista,
sem qualquer refutação séria aos pontos que já expus exaustivamente aqui neste
humilde blog. Ou melhor, parece mais jogo de Remo e Paysandu ou Fla x Flu. Meu
amigo, em um bar, no cúmulo da ironia, soltou uma resposta sarcástica: - A
maioria desses estudantes de direito mal lê alguma coisa. Eles gostam de Big
Brother Brasil, vão à micareta, comentam nos bares as estripulias do Reality
Show “A Fazenda” e só estudam pra concurso público. O único horizonte mental
deles é a universidade. O que você pode esperar deles, conde? Respondi: - tem razão!
Eis os novos
comentários que ouço sobre o último artigo que escrevi sobre incesto e
poligamia, comentários estes publicados em facebook. Uma jovenzinha, por
alcunha Priscila, soltou o verbo contra mim. Pelo teor de suas declarações,
parece também ser professoras universitária. Vejamos:
“O
novo post não traz nada que possa ser aproveitado,mesmo por um processo de
reciclagem, o mesmo argumento retórico e ultrapassado, discutindo os mesmo
pontos, já esclarecidos e que o tal conde recusa a acolhê-los, mesmo quando
estão de braços dados com fundamentações e ideais de liberdade !”
Até
aqui dona Priscila não disse coisa com coisa. Será
um vício retórico tão obsessivo dividir o mundo entre presente e
passado? O que é “argumento
retórico” e “ultrapassado”? Ultrapassado em que sentido? Por quem? A
Priscila
deve ser um marco histórico na humanidade, já ela é um parâmetro tão
elevado do
progresso humano, que tudo que passou antes dela não tem mais validade
alguma. E o que significa estar de braços dados com a liberdade? Incesto
e
poligamia são sinônimos de liberdade também?
“Ainda não consigo entender, como alguém pode ser
tão intolerante ao ponto de não permitir-se uma discussão tão saudável , como a
que está sendo proposta pelo ProfessorAndré Coelho. Lamentável para o Conde, ótimo para nós, expectadores!”.
Vamos ver se entendi bem. Eu critico as idéias do
professor e sou atacado por um bando de papagaios raivosos, pelo único crime de
questioná-lo. Esse pessoal tem uma mania histérica de vitimização sistemática.
É intocável e hipersensível. Eu sou “intolerante” porque abomino a destruição da família, como
ele quer propor, de forma irresponsável? Lamento, há certos princípios que são
irrenunciáveis. Se o dito professor do Cesupa não entende isso, paciência. Não
dá pra ser completamente educado com tantas declarações inconsequentes.
“Tem mtas pérolas no texto dele, para mim as
principais são quando ele diz que a noção de 'liberdade" é destrutiva no
ocidente; que o direito moderno que andré citou é um "modismo"; que
"existem" postulados morais "genuínos (embora sequer os cite, ou
explique essa noção de genuíno que ele repete ao logo do texto);a maneira como
ele descreve o problema do suicida, e, pelo menos para mim, de acordo com ele o
suicidio deveria ser proibido (na vdd ele fala isso qdo "aborda" o
suicidio assistido.);”
Priscila apela a um expediente desonesto chamado “falácia
do espantalho”. Ela não critica a mim, necessariamente, mas a uma caricatura
que inventou de mim. Primeiro, eu especifiquei porque a liberdade moderna é
destrutiva ao ocidente. Pela simples razão de que a liberdade sem regras, sem
ordem, sem disciplina ética e moral, pode legitimar qualquer ação humana,
inclusive, a mais aberrante. Por que será que o professor do Cesupa chegou às
tolas conclusões de que incesto e poligamia podem virar status de casamento?
Pelas mesmas razões que a liberdade sem critérios e fins éticos objetivos pode
justificar qualquer outra prática abominável. Afirmar que o alardeado “direito
moderno” é um modismo, um capricho ou uma agenda política é a coisa mais óbvia
do mundo. Aliás, Priscila demonstra um horizonte jurídico muito estreito em
achar que a universidade brasileira representa algum “direito moderno” que se
preze. Sinceramente, não dou a mínima para conceitos como “modernidade” ou “progresso”. São apenas idolatrias do tempo.
Quanto aos aspectos da ética e da moral genuína, eu
expliquei nos artigos anteriores. Não vou me delongar aqui. Contudo, Priscila
afirma que eu sou a favor da proibição do suicídio. Das duas uma: ou ela não
leu o que escrevi ou simplesmente leu com muito ódio e não conseguiu entender o
que foi escrito. Um tranquilizante seria bom para a moça. Em nenhum momento disse que o suicídio deve ser juridicamente
proibido, e sim que a nossa moral vigente não o aceita por invalidar o direito
à vida, ainda que a prática não seja criminalizada. E o tal “suicídio assistido” é um crime tipificado pelo direito penal.
Eu não posso ajudar alguém a se matar, por ser também um homicida. Será que
Priscila também ignora esse mero detalhe?
“Não posso deixar de comentar a passagem que ele
cita Aristóteles e a prudência em questões morais como , de acordo com ele, um
argumento contra o "relativismo" do André. É engraçado, pois, a
prudência para Aristóteles está relacionado a uma noção particularista da ação moral,
a prudência é utilizada pelo sujeito quando não existe resposta correta para
determinada ação moral, ou seja, em situações em que a ação não pode ser universalizável”.
Que besteira! Aristóteles é claro quando fala dos
princípios gerais da justiça e da mediania aplicados à ética. O que Aristóteles
discute é como essas questões de princípio se aplicam aos casos particulares. A
prudência é justamente a aplicação do princípio da mediania e da justiça à
realidade particular e imprevisível das relações humanas. Querer transformar
Aristóteles num relativista faz da Priscila ou uma pessoa que não leu
Aristóteles ou simplesmente não o entendeu.
“Existe uma grande discussão entre os especialistas
sobre o problema entre particularidade e universalismo em Aristóteles, mas, a
grande maioria dos comentadores concorda mais com a primeira do que com a
segunda, pois, como a ética e a política são problemas da razão prática,
"não se pode" falar em universais como a filosofia primeira”.
Que asneira! Em nenhum momento Aristóteles reduz a
razão prática e uma arbitrariedade particularista ou subjetivista. Pelo
contrário, ele é perfeitamente claro em definir o que é a ética, quais são seus
princípios e como eles são aplicados na realidade prática. Aliás, a discussão
sobre o problema da particularidade do direito e seu universalismo é algo que
existe desde os primórdios da filosofia, passando pelos gregos e chegando nos
medievais. O que dona Priscila e seu camarada professor pregam é a completa
negação da universalidade do direito. Ou melhor, a redução dessa universalidade
a meros “consensos”, “palpites”, “tendências”, sem quaisquer fundamentos na
racionalidade objetiva e no bom senso.
“O que Aristóteles faz são apenas restrições
universais em determinadas ações, como o assassinato, pois, não é possível
achar uma justificativa, em nenhuma situação para isso”.
Priscila certamente não leu Ética Nicômaco. Ou se
leu, foi uma baita orelhada sobre o livro. Aristóteles é bastante claro quando discute
no início de sua obra a respeito do bem. Quando ele afirma que a ética é a
prática visando algum bem, já está determinando um princípio geral. Quando ele
afirma que a justiça é o elemento mais cabal da ética, e que inspira a mediania
da conduta e a prudência, ele também sujeita a razão prática a um princípio,
embora esse princípio não seja exato ou quantificável. O conflito geral da ética, como do direito, é
a aplicação abstrata de princípios gerais de justiça sobre circunstâncias
particulares. É neste sentido que
Aristóteles debate a ética. A menininha precisa estudar mais ao invés de emitir
opiniões estapafúrdias sob efeito da TPM.
“Mas, tudo bem, ele pode dizer que eu sofro de
"academicismo decadente" por não concordar com a leitura ignorante
que ele faz de Aristóteles e achar uma absurdo citar um filósofo desse calibre
dessa maneira”.
A minha leitura de Aristóteles é dos próprios textos
do filósofo e também de Giovanni Reale. A interpretação da Priscila sobre o
assunto é puro palpite.
"Tampouco a prudência se ocupa apenas com
universais. Deve também reconhecer os particulares, pois ela é prática, e a
ação versa sobre os particulares. É por isso que alguns que não sabem, e
especialmente os que possuem experiência, são mais práticos do que outros que
sabem; porque, se um homem soubesse que as carnes leves são digestíveis e
saudáveis, mas ignorasse que espécie de carnes são leves, esse homem não seria
capaz de produzir a saúde; poderia, pelo contrário, produzi-la o que sabe ser saudável a carne de galinha".(Etica a nicomaco cap VI
1141b 15-21).
Estou apenas enfatatizando o que escrevi no post
anterior, pq quero mostrar para o tal Conde que ao invés dele ficar fazer
vídeos e escrevendo textos medíocres na internet achando que sabe alguma coisa,
querendo citar com propriedade filósofos, é melhor que ele pare e vá estudar”.
Priscila
acabou de confirmar tudo o que eu disse
sobre Aristóteles. Os princípios da ética são dinâmicos, não são eivados
de
exatidão, porque estão na seara das relações humanas, que são
imprevisíveis. A
razão prática é o uso de princípios gerais da justiça, do equilíbrio da
conduta
e da mediania dentro de cada circunstância específica. Aristóteles chega
a afirmar que a justiça é a virtude moral por excelência. Como a ética
pode carecer de princípios orientadores da conduta humana?
“Por que sim, o nosso treino na "academia
decadente" nos dá ferramentas para perceber a quantidade de erros que você
comete em apenas 1 parágrafo. E é por causa da sua falta de leitura e estudo
comprometido que você sequer entende o que está sendo discutido.PS; quero
deixar claro que sequer sou especialista em Aristóteles, mas, tive vários
professores especialistas membros da decadência que me ensinaram,
especialmente, a não falar do que não sei”.
Ao invés de Priscila acreditar pia e fanaticamente
nos seus professores, que tal começar a ler Ética Nicômaco e parar de falar
abobrinhas?
“Acrescento ainda a parte, (por ele convenientemente
editada, óbvio) de quando o André diz por que não é válido que ele use o
argumento da "família natural" ou da proteção dos descendentes. E
ainda, depois que o André citou a proibição de casamento inter-raciais::
"O professor não sabe distinguir o que é uma “família natural” e o que é
uma agenda política produzida pelo direito moderno.Expliquemos. O direito
moderno, contaminado pelo positivismo jurídico, pelo relativismo e pelo
marxismo cultural, parte do pressuposto de que a realidade pode ser modelada
pelas leis e pela engenharia social" Ah claro, casamento inter-racial faz
parte de uma "agenda política". Meu coração pula uma batida toda vez
que escuto alguém falar em "marxismo cultural" como se fosse teoria,
ou, ainda um argumento, de fato, válido. Sério, vai estudar cara”.
Priscila
apelou aqui para o mau caratismo extremo.
Não posso usar outras palavras para descrever o nível de desonestidade e
baixaria que ela chegou ao afirmar, sutilmente, que eu seja contra os
casamentos “inter-raciais”. "Família natural" é um princípio universal,
aberto a todas as culturas e indivíduos. Como ele pode ser equiparado à
segregação racial ou ao impedimento racial ao casamento?
Expliquei na resposta ao professor, que casamentos “inter-raciais”
são bem mais naturais do que ele presume, pois existem em várias fases da história
humana. Gregos se casavam com romanos, brancos se casavam com negros, judeus se
casavam com gentios e isso nunca foi escândalo no âmbito da estrutura essencial da
família. Na pior das hipóteses, os escândalos tinham natureza religiosa ou
cultural, mas nunca familiar. Ninguém afirmaria que duas pessoas de culturas
diferentes seriam “antinaturais” por se casarem entre si, salvo por fanáticos
racistas do século XX. A Cristandade sempre aceitou casamentos de grupos
diferentes, contanto que os diferentes aceitassem os postulados doutrinários da
Igreja. Judeus se casavam com católicos, islâmicos se casavam com judeus e
ninguém questionou o elemento natural de família deles. Ninguém questionou o
fato de um indivíduo ser filho de pai judeu ou mãe cristã. Ou um pardo ser
filho de mãe negra e pai branco. Em suma, Priscila mente, colocando palavras na
minha bica, insinuando um racismo que nunca defendi. Mas não custa nada
aconselhá-la a tomar remédios, já que se o coração dela bate tanto assim, ela
pode ter um infarto.
“Outra; a parte que para ele, só existe liberalismo
clássico ou libertarianismo e ainda, confunde o argumento de André com
utilitarismo : Rawls and Dworkin rolls on their grave”.
Eu não disse que só existem vertentes
libertarianistas e clássicas. Eu disse que o professor do Cesupa segue uma
lógica próxima do libertarianismo, embora com saladas de engenharia social
típica do pensamento socialista. Dona Priscila precisa aprender a ler o que foi
escrito e não criticar o espantalho que inventou para sua cabeça.
“Nunca vou me cansar de repetir: vai estudar. André,
nem vale a pena refutar pq vc teria que escrever um manual de filosofia
política para ele para ele começar a compreender o argumento, começando por
aristóteles, é claro”.
Sempre é assim. Uma hora inventam espantalhos, outra hora dizem que não vale a pena refutar, porque simplesmente não têm o que refutar. Patética e a dona Priscila me ensinar Aristóteles. Se é que ela leu, a não ser através de orelhadas de google.
Fonte: http://cavaleiroconde.blogspot.com/2013/09/discutir-com-papagaios-academicos.html
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