Imagine, caro leitor, que um “profeta” certo dia anunciou que havia
vida em Marte. Mas não ficou apenas nessa revelação. Usou métodos
“científicos” para “demonstrar” que era inevitável existir vida em
Marte, que era um estágio natural do cosmos, que após a vida na Terra, o
próximo passo de evolução só poderia ser a vida em Marte.
Lá, tudo era muito diferente. Os marcianos viviam de forma pacífica,
eram altruístas, abnegados, dividiam todas as propriedades e os frutos
do trabalho. Uma grande família, formada por uma espécie de ET que mais
parecia um “novo homem”.
Em seguida, milhares de teses de mestrado e doutorado foram escritas
sobre os marcianos. Inúmeros professores se especializaram no assunto, e
dedicaram suas vidas inteiras ao estudo do tema. Havia vasta literatura
sobre a vida em Marte, e os mais renomados professores da área eram
vistos como verdadeiras celebridades.
Até que um belo dia… veio o teste do pudim! Os americanos
capitalistas, sempre esses chatos, criaram robôs capazes de chegar a
Marte. O que constataram foi cruel, para os especialistas no tema:
simplesmente não havia vida em Marte. Cada canto do planeta fora
explorado, e nada. Nem um único ET para contar história. Tudo vazio.
Qual seria a reação de tanta gente cuja vida fora dedicada apenas a
essa obsessão? Como aqueles cujos empregos dependiam da expectativa de
vida em Marte reagiriam a essa notícia devastadora?
Essas são perguntas que nos ajudam a compreender melhor a reação de
tantos marxistas hoje. Os marcianos, digo, os marxistas acreditaram em
um “profeta”, que deu verniz pseudocientífico a uma “revelação”. Só que
cada experiência deixou bastante evidente que esse troço não existia,
que, quando a teoria era colocada em prática, o resultado não era um
“novo homem”, mas muita miséria, escravidão e terror.
Reconhecer o fracasso da tese, da seita, era o mesmo que sucatear uma
vida de estudos dedicados ao tema, e colocar em risco o próprio
emprego. “Especialista em Marx? Desculpa, mas é o mesmo que especialista
em marcianos, e eles não existem”. Como aceitar isso sem reagir, sem
negar os fatos, sem cuspir na realidade, sem alegar que todas aquelas
experiências não eram, na verdade, atreladas ao marxismo?
Voltando ao exemplo hipotético acima, os “cientistas” diriam que os
robôs é que estavam errados, que não tinham procurado direito pelos ETs,
que eram espiões da CIA com a missão de enganar os demais. Tudo, menos
reconhecer que dedicaram suas vidas a uma fraude! Isso, só os mais
corajosos, sempre em minoria.
Acredito que essa explicação mais prosaica, usando o próprio
materialismo tão caro aos marxistas, ajuda a entender como ainda existem
tantos marxistas aguerridos por aí, negando-se a admitir o fracasso
retumbante de sua seita, digo, ideologia.
Vestem novas embalagens, revisam o mestre, rescrevem a história,
dissociam as experiências marxistas do marxismo, colocam a culpa das
desgraças em causas exógenas, qualquer coisa para não jogarem no lixo
toda a bagagem que acumularam e que justifica seus empregos.
Sim, o marxismo é uma espécie de religião laica, como vários
pensadores perceberam. E isso explica boa parte de sua persistência
mesmo após 1989 ou 1992. Mas há esse outro lado mais materialista, mais
vulgar mesmo, de quem luta desesperadamente para preservar o que tem,
pois a alternativa é dolorosa demais, ameaçadora.
Quantos doutrinadores, digo, professores não existem ainda hoje por
aí pregando o marxismo, enfiando goela abaixo dos pobres alunos Marx?
Milhares! Eles são “especialistas” em vida em Marte, aquela que não
existe. Não vão jamais reconhecer isso, pois teriam que abandonar toda a
trajetória e recomeçar do zero.
Contam, felizmente para eles, com o fato de que o marxismo sempre
vende bem entre os jovens, pois é utópico na teoria, oferece uma fuga
sensacionalista para os ressentidos e invejosos, para os recalcados e
alienados. Os jovens rebeldes, insatisfeitos com a vida real (típico da
juventude), encantam-se com a promessa de vida em Marte, aquela
igualitária do “novo homem”, onde os melhores não existem.
Os professores e intelectuais exploram isso de forma oportunista, e
conseguem, então, preservar seus empregos e até sua aparência de
celebridade (Zizek que o diga). Esqueçam aquilo que os robôs americanos
mostraram. Há, sim, vida em Marte. Se ao menos tentarmos mais uma vez…
Nenhum comentário:
Postar um comentário