The New York Times destaca violência na Bahia
Autor: Danillo Ferreira
Um dos principais veículos de comunicação do mundo, o jornal The New York Times, acaba de publicar uma extensa matéria sobre a violência no nordeste, com foco quase exclusivo na Bahia. O periódico norte-americano destacou a alta incidência de homicídios, relacionando os crimes com o crescimento econômico na região, e pondo em xeque a realização da Copa do Mundo de 2014 em Salvador.
Trata-se de um sinal claro de que segurança pública deve ser tratada como área prioritária, ou teremos uma Copa politicamente negativa aos olhos do mundo (uso este argumento porque a perda de vidas, por si só, parece não convencer os políticos brasileiros).
Leia a matéria do The New York Times abaixo, traduzida improvisadamente, ou leia o original (em inglês):
Crescimento econômico no Nordeste brasileiro é acompanhado de violência ligada às Drogas
SALVADOR, Brasil – Jenilson Dos Santos Conceição, 20, estava de bruços no concreto áspero, seu corpo retorcido, sandálias ainda de pé, com o sangue de suas feridas de bala manchando a ladeira.
Uma pequena multidão de moradores assistiram desapaixonadamente como uma dúzia de policiais girava em torno do corpo sem vida do jovem.
“Ele foi seguido e executado aqui”, disse Bruno Ferreira de Oliveira, investigador de polícia. “Eles queriam ter certeza que ele estava morto.”
O Sr. Conceição foi a terceira pessoa encontrada morta no estado da Bahia naquele dia de Julho. No fim do dia, 6 morreriam violentamente, e no fim do mês 354 haviam sido mortos, segundo a própria polícia.
A geografia da violência no Brasil foi transformada nos últimos anos. No sudeste, onde se situam cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e outras localidades famosas por tiroteios e seqüestros, a taxa de homicídio diminuiu em 47 por cento entre 1999 e 2009, de acordo com um estudo realizado por José Maria Nóbrega, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Campina Grande.
Mas no nordeste, região pobre que mais se beneficiou dos programas de transferência de rendaa que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu durante seus oito anos no cargo, a taxa de homicídios quase dobrou no período de 10 anos, transformando esta área na mais violenta do País, segundo o Dr. Nóbrega.
Salvador, maior cidade da região, é uma das maiores atrações turísticas do Brasil, porta de entrada para algumas das praias mais espectaculares do país. E, como o Rio, se prepara para ser anfitriã da Copa do Mundo de 2014. Assim, as autoridades estão tomando aqui o manual do Rio de Janeiro, tentando lidar com a onda de crimes violentos estabelecendo unidades policiais permanentes em áreas violentas frequentadas por traficantes de drogas.
As Bases Comunitárias de Segurança que estão sendo instaladas são similares às “Unidades de Polícia Pacificadoras”, que o governo do Rio tem utilizado – em meio a muitas polêmicas – desde 2008 para conter a violência das drogas.
O Nordeste tem sido atormentado pelo crime, mas o aumento ilustra como o boom econômico do Brasil está causando violência relacionada às drogas – a principal causa para o flagelo de homicídio – migrando para outras partes do país, já que traficantes estão em busca de novos mercados, forçando medidas das forças policiais locais.
Segundo o governo baiano, “a mesma onda econômica que coloca mais dinheiro no bolso de milhões de brasileiros pobres, especialmente no nordeste, também estimulou o tráfico de drogas e os crimes a ela associados”. Traficantes de drogas, percebendo o potencial de um forte mercado, têm centrado sua atuação mais fortemente no Nordeste, resultando em guerras movidas à violência.
“Se o mercado consumidor está crescendo, o traficante de drogas virá aqui também”, disse Jaques Wagner, governador da Bahia. “O progresso social no Brasil é visível. Mas, ao mesmo tempo, ainda temos problemas com o tráfico de drogas e com a falta de respeito pela vida humana”.
Nos estados da Bahia e Alagoas, especialmente, tem havido uma explosão de violência na última década. O número de assassinatos na Bahia cresceu 430 por cento, (4.709 entre 1999 e 2008), segundo o Dr. Nóbrega, e no ano passado a taxa de homicídios do estado, de 34,2 por 100.000 habitantes, foi superior ao do Rio de Janeiro, que caiu para 29,8. (O governo da Bahia afirma que, depois de se estabilizar em 2010, os homicídios caíram 13 por cento até julho de 2011 em comparação com os primeiros sete meses de 2010.)
Agências de viagens dizem que estão preocupados com o aumento da criminalidade violenta em favelas da Bahia – como os assaltos que ocorrem no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, e um dos principais pontos turísticos da cidade.
“Salvador, agora, não está pronta para a Copa do Mundo, e eles estão começando a perceber isso”, disse Paul Irvine, diretor de uma agência de viagens no Rio de Janeiro, que organiza viagens para ambas as cidades.
O Governador Wagner minimizou tais afirmações, lembrando que a Bahia tem seu Carnaval todo ano, onde mais de um milhão de pessoas saem às ruas, com 22 mil policiais oferecendo segurança.
“Passamos quatro anos sem um homicídio no percurso do desfile”, disse ele. “Para mim, com a competência da nossa polícia, não haverá qualquer problema para a Copa do Mundo”.
Favelas violentas do Rio de Janeiro tem se caracterizado por batalhas entre a polícia e gangues de traficantes fortemente armados que controlam grandes áreas. Mas no Nordeste, os responsáveis pela segurança pública afirmam que as pessoas têm historicamente a cultura de resolver disputas por conta própria – vizinho contra vizinho.
“O Nordeste possui a cultura da justiça com as próprias mãos”, disse Maurício Teles Barbosa, secretário de segurança na Bahia. “Historicamente, existia a prática do cidadão comum fazer o papel da polícia. Agindo como ‘coronéis’, fazendo ‘justiça’ sem a participação do Estado”.
A chegada do crack tem sido particularmente devastador. Em Nova Constituinte, uma comunidade na periferia de Salvador que surgiu duma antiga plantação de bananas, uma série de assassinatos relacionados com a droga tem ocorrido na área durante os últimos cinco anos, incluindo o massacre de seis adolescentes num embate entre gangues rivais, disse Arnaldo Anselmo, 42, um líder comunitário.
Gildásio Oliveira Silva disse que os traficantes de drogas duas vezes tentaram matar seu filho adolescente por dívida a traficantes. Em dezembro passado, ele disse, mataram a tiros sua mulher, Ana Maria Passos de Assis, 39, quando ela estava limpando o banheiro de sua loja, situada ao longo da avenida principal de Nova Constituinte.
“A violência piorou aqui”, disse o Sr. Silva, 68, um ex-policial. “E é tudo relacionado com as drogas.”
Após tornar-se governador em 2007, o Sr. Wagner prometeu reestruturar a polícia e tentar conter a violência crescente. Ele acrescentou 7.000 novos policiais nos últimos quatro anos e autorizou a contratação de mais 3.500 este ano.
A Bahia inaugurou sua primeira Base Comunitária de Segurança no Calabar, uma comunidade pobre cercada pelos mais caros arranha-céus. Desde a sua abertura, em abril, com 120 policiais, nenhum homicídio foi relatado, disse a capitã Maria de Oliveira Silva, que dirige a unidade.
“Nos últimos três anos, não houve um mês sem que alguém tenha sido morto aqui”, disse Lindalva Reis, 58 anos, que vive em Calabar há 38 anos.
Mais três unidades semelhantes estão sendo programadas para serem inauguradas no próximo ano perto de Nova Constituinte.
Como as unidades no Rio, os policiais selecionados são na sua maioria novatos, para tentar reduzir a corrupção e os hábitos mais agressivos de alguns policiais mais antigos.
Ao contrário do Rio, a instalação das novas unidades aqui não exigiu confrontos sangrentos com a duração de semanas entre traficantes com a polícia.
Para combater as críticas de que sua polícia não tem se esforçado para resolver crimes, o governo do Estado da Bahia criou um departamento de homicídios com 150 funcionários, focado em investigações de assassinatos.
Entre os desafios da nova unidade, está a eliminação de “grupos de extermínio”, as milícias compostas por policiais que praticam crimes, e são suspeitos de dezenas de assassinatos, segundo Arthur Gallas, diretor da unidade.
Há uma montanha de casos não resolvidos. Nos escritórios do novo departamento, os investigadores se debruçaram sobre pilhas de arquivos contendo 1.500 homicídios sem solução que data de antes de 2007.
Mas o novo impulso ainda é um trabalho em andamento.
Na cena do crime do Sr. Conceição, a polícia não estabeleceu fita de segurança para evitar a modificação das provas. “Preservar a prova é muito difícil aqui”, disse Helder Cunha, um perito técnico, observando que uma proposta para exigir fita da cena do crime na Bahia ainda não havia sido posta em prática.
Fonte: texto do blog abordagem policial (negrito deste blog)
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Pra banda da Bahia, 6 mortes em um dia, 354 no mês, explosão de homicídios. As colheitas que a mídia não divulga
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