Dr. Fábio Blanco
O ceticismo é uma maneira de fugir
do desconhecido. Assim também o é algum tipo de materialismo e racionalismo.
Conheço várias pessoas que diante da mera menção de algo extraordinário, quando
não sobrenatural, parecem que correm para se refugiar por detrás desses muros
pretensamente racionais.
Isso, para mim, não é nada menos do
que medo. Sim, medo de ter que lidar com algo que não pode explicar em níveis
lógicos, que tira seus pés do chão e os convidam para a abertura da perspectiva
e, quem sabe, destruição de suas certezas.
Nas pessoas comuns essa reação me
parece até compreensível. O sobrenatural, em princípio, e analisado em si
mesmo, é assustador. Nele, depara-se com o imponderável. Cercados de tantas
certezas e tentativas de manter-se seguros, a "visita" de um fenômeno
inexplicável e incompreensível é a destruição dos fundamentos do edifício da
percepção. Aceitar o milagre é confessar que definitivamente não há controle
sobre a própria existência.
Isso é assustador, convenhamos. Os
homens passam a vida inteira procurando por soluções para curar as
enfermidades, adiar a morte e evitar o perigo, que aceitar tranquilamente que
há elementos externos que fogem de seu controle e desmontam os alicerces do
previsível é improvável.
Não que a reação de resistência ao
milagre seja completamente consciente. Pelo contrário, como é próprio das
reações de medo, esta também é quase instintiva. O homem que nega a
sobrenaturalidade apenas está tentando preservar sua sanidade.
No entanto, quando nos referimos
aos homens pertencentes à comunidade científica, a análise deve ser muito mais
rigorosa. O cientista digno dessa alcunha não é um justificador de crenças, nem
um atestador de ideias concebidas com antecipação. Um verdadeiro cientista é um
observador. Ele enxerga os fenômenos, seleciona-os e tenta explicá-los.
Ora, quando um cientista nega a
existência do sobrenatural, obviamente está fechando os olhos para a abundância
de manifestações e fenômenos inexplicados e inexplicáveis, como se eles simplesmente
jamais tivessem ocorrido. São milhares, de relatos, experiências e testemunhos
que estão registrados na literatura, inclusive científica. É impensável
imaginar que todos essas descrições possam ser explicadas com base em
transtornos psicológicos, individuais ou coletivos.
Na verdade, um analisador honesto,
alguém que tem como missão explicar o mundo e não justificá-lo, deveria afirmar
que há muito mais coisas nesta vida do que podem contemplar seus métodos. E em
qual categoria devem ser colocados esses fenômenos? Se não como milagres, ao
menos como mistérios.
Apesar disso, a atitude corrente
dos scholars científicos varia entre a negação desses mistérios e a colocação
deles em terrenos inexplorados (mas explicáveis), como os poderes da mente. Com
essa metodologia, conseguem abranger dentro do ambiente passível de explicação
simplesmente tudo. O que a ciência explica é fato, o que não explica está
abrangido pela força da mente, o que acaba sendo, de alguma forma, uma
explicação, e afasta, definitivamente, o sobrenatural.
Na verdade, esses cientistas agem
como pregadores, não como estudiosos. São, nos dizeres do padre Fortea, como
bruxos. Em suas palavras: "Um cientista que usa a razão para seu capricho,
já não é um cientista, e sim uma espécie de bruxo ou mágico da razão. E assim,
diante de determinados fatos, certas pessoas, apesar de suas qualificações,
agem tão irracionalmente quanto um bruxo caribenho dançando ao redor do fogo.
Dançam ao redor do fogo da razão, mas são as suas decisões tomadas de antemão
que guiam seus movimentos nessa dança (Summa Daemoniaca, ed. Palavra e
Prece)"
A razão é um dom. Por ela, nos
tornamos semelhantes a Deus. O que ela não pode ser é um delimitador da
compreensão, negando a possibilidade da transcendência e da sobrenaturalidade.
A inteligência dirige todas as coisas e, por isso mesmo, está acima e além das
leis naturais conhecidas.
O que sabemos é tudo o que sabemos,
mas, decididamente, não é tudo o que existe.
Fonte:
Discursos de Cadeira
Divulgação:
www.juliosevero.com
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