sábado, 15 de junho de 2013

José arrebenta

Escrito por Camila Hochmüller Abadie
josearrebentaRecentemente descobri, no perfil já nem lembro de quem, a breve reportagem de Zero Hora sobre a história de José Luiz Camboim Moni. O título da matéria é "Debaixo da ponte, um aluno nota dez". O vídeo dura menos de 4 minutos e eu recomendo a todos que o assistam, mamães e crianças.

Como vimos, José é um menino paupérrimo que mora literalmente debaixo da ponte com sua família na cidade de Esteio, município bem próximo a Porto Alegre. Até aí, podemos dizer como o sábio, "não há nada de novo debaixo do sol". Há dezenas, centenas, talvez milhares de Josés por aí. No entanto, José arrebenta. E o faz pelos motivos que nos mostra a reportagem: José arrebenta ao virar cada página de livro com a seriedade e devoção de quem lida com relíquias sagradas; José arrebenta ao manter uma frequência exemplar à escola; José arrebenta ao passar o máximo de tempo possível na biblioteca; José arrebenta sendo o melhor aluno de sua turma, ano após ano. 


E é quando olho para José e encontro, em meio à sua rotina pobre e crua, tanta força e constância, que me convenço ainda mais e de novo de que o discurso comunista, esteja ele travestido da forma que estiver, é pura retórica, pura e intencional manipulação emocional para levar tantos quanto possíveis ao engano e à escravidão de terem reduzidas suas faculdades mentais a clichês da ideologia mais oportunista, alienante e assassina da história humana. 

E eu chego a tal conclusão ao comparar alguns dos clássicos sentimentos e comportamentos comunistas com os de José:

José não é revoltado. José é disciplinado; 

José não se vitimiza, não sente pena de si, dependendo da ação de um pretenso agressor para reagir. José é responsável e escreve diligentemente sua própria história, dia após dia, como uma formiguinha teimosa;

José não culpa alguém por sua condição, nem ao governo, nem à economia, nem ao capitalismo, talvez nem a própria mãe e o próprio pai. José livremente decide dar o melhor de si na construção de sua vida;

José não espera que alguém resolva o seu problema. José estuda para resolver os seus problemas; 

José não quer combater as desigualdades sociais. José quer combater a própria pobreza na qual encontra-se mergulhado;

José não quer tornar-se um líder revolucionário para quem os fins de uma causa imaginária justificam os meios. José quer tornar-se médico, jogando de acordo com as regras do jogo, isto é, estudando, estudando e estudando;

José não se ressente com a escassez de recursos. José faz o melhor que pode com o pouco que tem;

José não inveja e odeia a propriedade alheia. José quer também adquirir honestamente o seu quinhão. 

José não se rende, tragado pelo buraco-negro de uma circunstância desoladora. José se dobra e se levanta, como fazem aqueles bonitos e altos coqueiros durante as tempestades e os furacões.

Mais recentemente ainda, fez-se uma nova reportagem com José, desta vez mostrando a repercussão da matéria original. O vídeo exibe quantas pessoas se sensilizaram e estenderam as mãos em favor do menino, de sua família e até da escola. Um dos momentos mais bonitos foi ver a mãe de José comemorando a oferta de um curso de inglês para o filho e de uma carroça para si, para que possa trabalhar. Isso sem contar no momento em que José responde à pergunta acerca do motivo para a escolha da medicina: 

"Para poder ajudar os outros", responde ele simplesmente.
Também esta segunda matéria nos mostra uma importante diferença entre os comportamentos comunistas e os das pessoas mobilizadas em prol de José:

Quem realmente se importou com o menino, puxou as mangas da camisa e foi até lá ofertando o que podia. 

Ninguém ficou propondo ou organizando passeatas, invasões, manifestações com barbados de saia ou mulheres com os seios de fora, empurrando para cima do Papai Estado ou da mamãe Sociedade a iniciativa e resolução da situação do "oprimido" ou "discriminado" José, como se nada de concreto pudessem fazer para amenizar a vida difícil do menino. Não estou dizendo, com isso, que manifestações públicas são todas erradas. Errado é esperar que os outros, ou um Outro abstrato e impessoal, resolvam problemas que cada um de nós pode ajudar a resolver. E esta é uma diferença fundamental que precisa ser notada, anotada e refletida.

Eu agradeço a Deus pela vida de José, pois ele nos traz de volta para a realidade e larga sobre o nosso colo a responsabilidade por nossas vidas. Não que sejamos onipotentes ou que o contexto no qual estejamos inseridos não exerça influência sobre nós, mas maior será a influência e a dependência quanto mais fracos e omissos nos tornarmos. Agradeço a Deus pela vida de todos os Josés que conheci e com alguns dos quais ainda tenho a honra de conviver. São homens e mulheres que partiram de situações muito semelhantes à do menino da reportagem, mas que hoje são advogados, padres, pastores, mestres, doutores e PHDs. Lutaram e prevaleceram. Sem bolsa família. Sem sistema de ciclos na escola. Sem SuperNanny. Sem que o governo ou a economia os favorecesse. Sem maiores heranças além do exemplo do trabalho honesto e diário de seus pais.

É de gente como o José da reportagem e dos Josés que eu conheço que o Brasil precisa. E não de terroristas, malandros e facilitadores de todo o tipo que agem justificados pela retórica das "melhores boas intenções".

Que saibamos usar os recursos de que dispomos com sabedoria para fazermos o nosso melhor, sempre, por nossos filhos, netos e por nosso país.

Camila Hochmüller Abadie é mãe, esposa e mestre em filosofia. Edita o blog Encontrando Alegria.
via mídia sem mascara

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